São Paulo, sábado, 03 de fevereiro de 2001

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CARREFOUR

Testemunha confirmou que desempregada pediu ajuda e ligou para polícia

Lojista derruba versão de seguranças



PEDRO DANTAS
MARIO HUGO MONKEN

DA SUCURSAL DO RIO
Um depoimento prestado à polícia derruba a versão dada pelos seguranças do Carrefour de Jacarepaguá (zona oeste do Rio) sobre o caso envolvendo as desempregadas Andréa Cristina dos Santos, 27, e Geni Ribeiro Barbosa, 30.
As duas afirmam que vigilantes do supermercado chamaram traficantes para puni-las pelo furto de nove frascos de protetor solar no sábado passado. Já o gerente de segurança e dois seguranças da filial negam a acusação, alegando que liberaram as mulheres após recuperar a mercadoria furtada.
Segundo o delegado Orlando Zaccone, que preside o inquérito, o dono de uma loja próxima ao supermercado, que pediu que seu nome não fosse revelado, confirmou que Andréa pediu sua ajuda para ligar para o 190 -telefone de emergência da polícia- sábado.
No telefonema, Andréa pediu que a polícia viesse rápido para libertar Geni, que tinha sido levada por traficantes. Segundo Zaccone, o comerciante repetiu as mesmas palavras que Andréa afirmou ter dito ao telefone: "Vocês têm que vir rápido para o Carrefour porque minha amiga foi levada para algum lugar e, se vocês não vierem rápido, vai ser tarde." A Folha localizou o comerciante ontem. Ele confirmou ter deixado que Andréa usasse o telefone, mas não quis dar mais detalhes.
Na fita de vídeo do circuito interno de TV entregue pelo supermercado, há um corte de quatro horas e 40 minutos a partir do momento em que as mulheres mostram, na sala dos seguranças, as mercadorias furtadas.
Após a interrupção da fita, segundo Andréa e Geni disseram à polícia, o segurança José Luís Ferreira telefonou para uma mulher chamada Lolonga, que seria contato do traficante Telo, gerente do tráfico na Cidade de Deus.
Segundo o relato, um traficante chamado Quinho foi até o supermercado e levou Geni ao encontro de Telo na favela. Lá, ela teria sido espancada e amarrada a pneus que seriam incinerados.
Ela teria sido salva porque Andréa conseguiu fugir da sala dos seguranças e chamar a polícia. Preocupado com a chegada dos policiais, o segurança Flávio Augusto Grachet teria ido à favela pedir aos traficantes a libertação de Geni. Os dois seguranças, além do gerente de segurança Tadeu Pinto, estão presos desde sábado.
O gerente da filial do Carrefour, Joaquim Antônio Almeida da Silva, não foi ao depoimento marcado para ontem no inquérito criminal da 41ª DP, mas prestou esclarecimentos na Delesp (Delegacia de Controle de Segurança Privada) da Polícia Federal, que investiga o sistema de segurança do mercado. Silva disse que soube do caso na segunda-feira. O delegado substituto da Delesp notificou o gerente para que o Carrefour encerre imediatamente as atividades clandestinas de segurança.
O Carrefour nunca registrou queixa de furtos nas duas delegacias de Jacarepaguá, segundo Zaccone. Para ele, isso é uma evidência de que os casos de furto são resolvidos internamente na loja.
A Assessoria de Planejamento da Polícia Civil, que monitora queixas do 190, confirmou que entre dezembro de 1997 e dezembro de 2000 não recebeu nenhuma chamada da filial do Carrefour. No mesmo período, a filial da rede Sendas, também situada na estrada de Jacarepaguá, registrou 19 roubos e 12 furtos.



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