São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2002

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Libertação sai após prisão de estrangeiros

Flávio Florido/Folha Imagem
Chácara em Serra Negra onde foram presos os suspeitos do sequestro


Grupo confessou sequestro; pessoas que mantinham Olivetto preso abandonaram cativeiro

SÍLVIA CORRÊA
ENVIADA ESPECIAL A SERRA NEGRA

A libertação do publicitário Washington Olivetto ocorreu após a prisão de seis supostos estrangeiros na noite de anteontem no interior de São Paulo.
A polícia encontrou com o grupo bilhetes e gravações que supostamente seriam destinados a familiares de pessoas que estariam sequestradas.
Durante a madrugada, o grupo confessou à polícia a autoria do sequestro do publicitário.
Depois do depoimento, as pessoas que mantinham o publicitário preso abandonaram o cativeiro na rua Kansas, no Brooklin Novo (zona sul).
Os presos são quatro homens e duas mulheres, cujas identidades não foram divulgadas. Os presos falavam espanhol e se declararam argentinos.
Contudo, em entrevista realizada na madrugada de hoje, no Comando de Policiamento de Área Metropolitano 2, na região de Campo Belo, próximo ao local do cativeiro, o governador Geraldo Alckmin declarou que os presos eram chilenos.
Durante toda a madrugada de sábado, a cúpula da Polícia Civil foi mobilizada na ação.
Informações extra-oficiais indicavam durante à tarde de ontem, antes da libertação de Olivetto, que havia membros da quadrilha foragidos -eles teriam tentado fazer contato com os celulares dos presos.
O grupo foi localizado às 17h30 de sexta em uma chácara de mais de 3.000 m2 na rua Antônio Beltrami, no bairro de Posses, em Serra Negra (a 150 km de São Paulo), a partir de uma informação: eles falavam espanhol e compraram o imóvel pagando em dólar o equivalente a R$ 500 mil.
O proprietário do imóvel, José Ribeiro, mora próximo ao local, mas não foi localizado ontem.
Na chácara, além dos bilhetes e das fitas -normalmente usados em negociações de sequestros-, havia máquinas fotográficas, computadores portáteis, US$ 6.000, uma pequena porção de maconha, uma dezena de celulares, pistolas, dois carros -um Vectra e uma Ranger- e farto material de disfarce (perucas, bigodes, enchimentos de corpo e passaportes falsificados).
O Vectra tem placas de São Paulo (COH-9313). A Ranger, de Belo Horizonte (GXP-8522). Teriam sido comprados pelos próprios detidos, com nomes falsos.
Informações preliminares indicam também que foi apreendida uma agenda com telefones, valores e dados de possíveis alvos da quadrilha.
Vizinhos da chácara descrevem seus ocupantes como pessoas "discretas, alegres, jovens e bonitas".
"Eles estavam aí havia um mês mais ou menos. Chegaram a ir a um encontro de motoqueiros", narra o estudante Sandro Roberto Gonçalves, 20, que ajudou dois dos presos -um homem e uma mulher- a desatolar o carro que usavam naquele dia.
"Ele tinha um cavanhaque e "cabelão". Ela, cabelos enrolados até os ombros. Era bem bonita", lembrou o estudante.
O vigia Clóvis Pérsio, 43, faz a segurança das ruas do bairro de Posses. Diz que os ocupantes pouco saíam de casa, mas ouviam música e usavam a piscina.
"O movimento mais comum era de luzes. Apaga e acende."
Durante a estadia dos presos na casa, de acordo com os vizinhos, apenas uma pessoa pode ter entrado na chácara: um jardineiro, chamado José, que faz a manutenção da área externa a mando do proprietário. Morador da região, o jardineiro não quis dar entrevistas.
Desde a metade da década de 80, a polícia diz apurar a ação de grupos estrangeiros em sequestros no Estado.
Há indícios de que, mesmo após a prisão dos sequestradores do empresário Abílio Diniz, em 1989, outros grupos desse tipo continuam agindo, mas nunca foram identificados.



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