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"Criminosos dependem de facilidades"
Promotor diz que quadrilhas contam com conivência do Estado; em 70% dos casos investigados, policiais estavam envolvidos
DA REPORTAGEM LOCAL
"Não há organização criminosa
que sobreviva sem a participação
de funcionários públicos, do Estado, porque elas precisam de facilidades", afirma o promotor José
Carlos Blat, do Gaeco (Grupo de
Atuação Especial de Repressão ao
Crime Organizado), do Ministério Público de São Paulo.
Prova disso é que os promotores desse grupo encontraram policiais -civis ou militares- envolvidos em cerca de 70% dos 450
procedimentos instaurados desde
a criação do Gaeco, em 98.
Outra característica do crime
organizado é sua hierarquia piramidal -líderes e soldados- e divisão de tarefas como empresas, o
que permite ""terceirizar" algumas
etapas do crime. Hoje, a polícia
paulista investiga grupos especializados em resgates, na vigilância
de cativeiros em sequestros e em
levantamentos sobre a vida das
vítimas que serão sequestradas.
""Essa necessidade de detectar
quem está articulando, quem está
tentando se organizar, fez com
que fosse criada a delegacia especializada nesse tipo de crime", diz
o delegado Godofredo Bittencourt, do Deic (Departamento Estadual de Investigações sobre Crime Organizado), unidade recém-reestruturada pela Secretaria da
Segurança de São Paulo.
Por esse motivo é que a principal estratégia do governo contra a
onda de sequestros no Estado é
prender dez líderes de quadrilhas
já identificados. Esses homens,
que planejam e ficam à distância
das situações de risco, organizam
""células" do crime nas ruas.
No ano passado, policiais do
Deic, que então tinha outro nome
e estrutura, investigaram com
promotores a ligação entre integrantes presos do PCC (Primeiro
Comando da Capital) e crimes
que aconteciam do lado de fora.
Descobriram 26 centrais telefônicas no Estado, por meio das
quais detentos se comunicavam
por telefones celulares com seus
""sócios" externos. Grampos da
polícia registraram planejamento
de fugas, sequestros e assaltos, entre outras transações criminosas.
""Existe uma comunicação e um
pacto entre os integrantes do
PCC, de um auxiliar o outro. Este
pacto praticamente faz a organização do crime", diz o delegado,
que defende o cadastramento de
quem possui celulares pré-pagos.
""Tudo bem que o comprador
possa apresentar identidade falsa,
mas pelo menos temos uma pista
para investigar", diz ele.
Amanhã, um segundo presídio
em São Paulo começará a testar
um aparelho de bloqueio de celular. O secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, espera ter em dois meses
um certificado da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) sobre esse tipo de produto,
que é novo no país, para poder
abrir processo de licitação.
Mas o combate ao crime organizado vai além disso. O juiz Octávio Augusto Machado de Barros
Filho, juiz-corregedor dos presídios de São Paulo, defende uma
reformulação na forma como se
trata o assunto. ""O crime organizado não está sendo combatido
por instituições, mas por órgãos.
Não há centralização de inteligência, órgãos democráticos para garantir investigações nas casas,
grampos", diz, comentando em
seguida sobre a experiência italiana de combate à máfia.
Para o coronel Rui César Melo,
comandante-geral da Polícia Militar paulista e presidente da Associação dos Comandantes Gerais
das PMs, é preciso ter investigação, punições claras e confisco do
dinheiro das quadrilhas para se
enfrentar esse tipo de criminoso.
""Você não combate o crime organizado dando trombada na rua.
É preciso um trabalho de inteligência, colocar no papel os nomes
dos envolvidos, suas tarefas e
ações. Depois de presos, eles precisam ficar em presídios especiais,
onde não possam usar celulares."
A PM de São Paulo tem hoje um
grupo especialista em monitorar
ações do PCC no Estado.
(ALESSANDRO SILVA)
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