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JUSTIÇA
Na Baixada Santista, doméstica registrou crianças como seus filhos; exames de DNA provam a falsa maternidade
Mulher é acusada de seqüestrar 2 meninos
FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS
Um caso semelhante ao de Vilma Martins Costa, condenada a
oito anos e oito meses de prisão
em agosto passado em Goiás por
seqüestrar duas crianças, começou a se delinear na Baixada Santista com a revelação, pela Polícia
Civil, de que uma mesma mulher
registrou como filhos dois meninos seqüestrados de maternidades da região.
Ontem, a DIG (Delegacia de Investigações Gerais) revelou que a
doméstica Silvânia Clarindo Souza, 37, acusada de seqüestrar em
abril de 2001 Filipe Francisco Lopes Dantas da maternidade do
hospital estadual Guilherme Álvaro, em Santos, também é a responsável pelo desaparecimento,
em fevereiro de 1996, do recém-nascido Alexsandro Vital do hospital Santo Amaro, no Guarujá.
A polícia recebeu ontem o resultado do exame de DNA de Filipe
Dantas, de 2 anos e 9 meses, que
dá 99,99% de probabilidade de
paternidade ao garçom Francisco
Fernandes Dantas, 33, e à dona-de-casa Francineide Batista Lopes, 29, casados e moradores no
bairro Ponta da Praia (classe média), em Santos. Por decisão judicial, o menino, registrado por Silvânia Souza como Alisson de
Souza, já está com os pais biológicos desde o dia 20.
Alexsandro -ou Eric, como foi
registrado- completará 8 anos
no dia 27. Ele já colheu sangue para o exame de DNA, assim como a
mulher apontada como a verdadeira mãe, a doméstica Ana Paula
Vital, 22, que vive na favela da Vila
Baiana, no Guarujá. Desde sábado, ele está entregue ao Conselho
Tutelar do município. Após o resultado do DNA, a Justiça decidirá com quem ficará.
Silvânia Clarindo Souza é mãe
de outros seis filhos, segundo disse à polícia. Desses, quatro seriam
biológicos e de um mesmo pai
-dois deles já morreram. Os outros são duas meninas, uma de 10
e outra de 13 anos, que ela afirmou ter recebido em doação de
outras mulheres.
O delegado titular da DIG, Gaetano Vergine, disse que a polícia já
encontrou a mãe da menina de 10
anos, na Baixada Santista, que teria admitido, informalmente, ter
entregue a menina em 1994.
Em todos os quatro casos -os
das duas meninas e os de Filipe e
Alexsandro- as crianças foram
declaradas pela mulher como
nascidas em casa. Por meio da
checagem das crianças nascidas
em casa em abril de 2001 -cujos
registros foram solicitados às promotorias da Infância e da Juventude de todo o Estado-, os policiais chegaram a Filipe e começaram a esclarecer os casos.
O advogado de Silvânia Souza,
Paulo Bonavides, afirmou que vai
requerer exame de sanidade mental para demonstrar que ela não
tinha compreensão dos atos
quando seqüestrou os meninos.
Na versão de Silvânia, nos dois
casos, ela teve gravidez psicológica -engordou e os seios e a barriga cresceram. De acordo com o
advogado, entre familiares e vizinhos há testemunhas que podem
comprovar a manifestação dos
sintomas. "Ela é uma pessoa
doente, que merece tratamento e
não cadeia", declarou.
O delegado Vergine disse que
não solicitou a prisão provisória
de Silvânia pois ela tem residência
fixa e está colaborando com a polícia. Segundo o advogado Bonavides, a doméstica está "emocionalmente muito abalada".
Silvânia está indiciada em quatro inquéritos, referentes a Filipe,
Alexsandro e às meninas, e responderá por subtração de incapaz, parto suposto e falso registro,
mesmas razões que levaram Vilma Martins Costa à prisão.
Vilma foi acusada de subtrair de
uma maternidade de Brasília, em
1986, Pedro Rosalino Bráulio Pinto, o Pedrinho. Antes, em 1979, a
mulher teria levado Aparecida
Fernandes Ribeiro da Silva (Roberta Jamilly Martins Borges) de
uma maternidade de Goiânia.
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