São Paulo, terça-feira, 03 de fevereiro de 2004

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JUSTIÇA

Na Baixada Santista, doméstica registrou crianças como seus filhos; exames de DNA provam a falsa maternidade

Mulher é acusada de seqüestrar 2 meninos

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

Um caso semelhante ao de Vilma Martins Costa, condenada a oito anos e oito meses de prisão em agosto passado em Goiás por seqüestrar duas crianças, começou a se delinear na Baixada Santista com a revelação, pela Polícia Civil, de que uma mesma mulher registrou como filhos dois meninos seqüestrados de maternidades da região.
Ontem, a DIG (Delegacia de Investigações Gerais) revelou que a doméstica Silvânia Clarindo Souza, 37, acusada de seqüestrar em abril de 2001 Filipe Francisco Lopes Dantas da maternidade do hospital estadual Guilherme Álvaro, em Santos, também é a responsável pelo desaparecimento, em fevereiro de 1996, do recém-nascido Alexsandro Vital do hospital Santo Amaro, no Guarujá.
A polícia recebeu ontem o resultado do exame de DNA de Filipe Dantas, de 2 anos e 9 meses, que dá 99,99% de probabilidade de paternidade ao garçom Francisco Fernandes Dantas, 33, e à dona-de-casa Francineide Batista Lopes, 29, casados e moradores no bairro Ponta da Praia (classe média), em Santos. Por decisão judicial, o menino, registrado por Silvânia Souza como Alisson de Souza, já está com os pais biológicos desde o dia 20.
Alexsandro -ou Eric, como foi registrado- completará 8 anos no dia 27. Ele já colheu sangue para o exame de DNA, assim como a mulher apontada como a verdadeira mãe, a doméstica Ana Paula Vital, 22, que vive na favela da Vila Baiana, no Guarujá. Desde sábado, ele está entregue ao Conselho Tutelar do município. Após o resultado do DNA, a Justiça decidirá com quem ficará.
Silvânia Clarindo Souza é mãe de outros seis filhos, segundo disse à polícia. Desses, quatro seriam biológicos e de um mesmo pai -dois deles já morreram. Os outros são duas meninas, uma de 10 e outra de 13 anos, que ela afirmou ter recebido em doação de outras mulheres.
O delegado titular da DIG, Gaetano Vergine, disse que a polícia já encontrou a mãe da menina de 10 anos, na Baixada Santista, que teria admitido, informalmente, ter entregue a menina em 1994.
Em todos os quatro casos -os das duas meninas e os de Filipe e Alexsandro- as crianças foram declaradas pela mulher como nascidas em casa. Por meio da checagem das crianças nascidas em casa em abril de 2001 -cujos registros foram solicitados às promotorias da Infância e da Juventude de todo o Estado-, os policiais chegaram a Filipe e começaram a esclarecer os casos.
O advogado de Silvânia Souza, Paulo Bonavides, afirmou que vai requerer exame de sanidade mental para demonstrar que ela não tinha compreensão dos atos quando seqüestrou os meninos.
Na versão de Silvânia, nos dois casos, ela teve gravidez psicológica -engordou e os seios e a barriga cresceram. De acordo com o advogado, entre familiares e vizinhos há testemunhas que podem comprovar a manifestação dos sintomas. "Ela é uma pessoa doente, que merece tratamento e não cadeia", declarou.
O delegado Vergine disse que não solicitou a prisão provisória de Silvânia pois ela tem residência fixa e está colaborando com a polícia. Segundo o advogado Bonavides, a doméstica está "emocionalmente muito abalada".
Silvânia está indiciada em quatro inquéritos, referentes a Filipe, Alexsandro e às meninas, e responderá por subtração de incapaz, parto suposto e falso registro, mesmas razões que levaram Vilma Martins Costa à prisão.
Vilma foi acusada de subtrair de uma maternidade de Brasília, em 1986, Pedro Rosalino Bráulio Pinto, o Pedrinho. Antes, em 1979, a mulher teria levado Aparecida Fernandes Ribeiro da Silva (Roberta Jamilly Martins Borges) de uma maternidade de Goiânia.


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