São Paulo, quarta, 3 de fevereiro de 1999

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O que o totó tem a ver com o ódio alheio?

BARBARA GANCIA
Colunista da Folha

Toda vez que tenho a infeliz idéia de levar meu Dachshund Pacheco para brincar em alguma praia que ainda aceite a presença de cachorros me convenço de que, a cada dia que passa, gosto mais de nossos únicos cúmplices no planeta do que de humanos -especialmente os que elevam o veraneio a uma forma de arte.
Pode acreditar: por mais que a praia nada tenha contra cães, o dono do totó será alvo de insultos por parte de alguma besta metida a sanitarista.
"Mas as fezes e o xixi dos cães provocam doenças", dirá o leitor que não deseja ser exposto ao bicho geográfico.
Concordo. Ocorre que o problema das fezes pode ser resolvido mediante o uso daqueles saquinhos para recolher detritos, que, em São Paulo, infelizmente, ainda costumam transformar o responsável cidadão que os utiliza em motivo de escárnio de outros pedestres.
Quanto ao xixi, prefiro sentar em uma praia empesteada antes pela urina do meu cão, que só come ração, do que pela urina de algum humano cuja dieta é composta por acepipes como calabresa mal passada, orelha de porco, entranhas de boi e uísque falsificado.
E, se o problema é separar quem odeia animais de quem gosta, porque não dividir a praia -como no caso das áreas de fumantes e não-fumantes nos restaurantes?
Tendo dito isso, aproveito o ensejo para engatar uma segunda e subir a rua Ministro Rocha Azevedo. A revista "Nosso Cão" deste mês traz um editorial comentando o projeto do deputado Alberto Calvo, proibindo a reprodução e a comercialização, no Estado, de cães das raças rottweiler, pit bull e mastim napolitano.
Faço minhas as palavras do amigo Synesio Ascencio, que assina o editorial. Veja o que ele diz: "Gostaria de lembrar outras raças que deveriam ser incluídas na lista do deputado se sua pretensão tivesse, porventura, algum fundamento. Foram esquecidos, e isso é imperdoável, o dobermann, o fila, o bull mastiff, o dodo argentino e até mesmo os "cruéis' pastores alemão e belga. Ora, o que o deputado não sabe é que se ensinarem um cão a ser agressivo, seja ele um yorkshire ou um rottweiler, ele vai atacar até a própria sombra (...). Adequadamente adestrado e socializado, o cão passa a merecer toda a nossa confiança. E cães confiáveis normalmente não atacam".

QUALQUER NOTA

Compressa
É impressão minha ou as bolsas debaixo dos olhos do ministro Malan começam a ficar parecidas com as de um basset hound? Nesse caso, acho que vou tirar dinheiro da poupança para comprar dois saquinhos de chá de camomila, a ser enviados por Sedex ao Ministério da Fazenda.

Persépolis
A julgar pelas imagens exibidas na TV, a posse dos deputados em Brasília foi uma farra de dar inveja aos festejos promovidos pelo xá do Irã. Falta de vergonha na cara não se calcula em dólar.

Falta de criatividade
Em uma época em que todos estão de olho no seu dinheirinho, os universitários bem que podiam pensar duas vezes antes de colocar calouros para disputar espaço nos semáforos com mendigos.

E-mail: barbara@uol.com.br



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