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O que o totó tem a ver com o ódio alheio?
BARBARA GANCIA
Colunista da Folha
Toda vez que tenho a infeliz
idéia de levar meu Dachshund
Pacheco para brincar em alguma praia que ainda aceite a
presença de cachorros me convenço de que, a cada dia que
passa, gosto mais de nossos
únicos cúmplices no planeta do
que de humanos -especialmente os que elevam o veraneio a uma forma de arte.
Pode acreditar: por mais que
a praia nada tenha contra cães,
o dono do totó será alvo de insultos por parte de alguma besta metida a sanitarista.
"Mas as fezes e o xixi dos cães
provocam doenças", dirá o leitor que não deseja ser exposto
ao bicho geográfico.
Concordo. Ocorre que o problema das fezes pode ser resolvido mediante o uso daqueles
saquinhos para recolher detritos, que, em São Paulo, infelizmente, ainda costumam transformar o responsável cidadão
que os utiliza em motivo de escárnio de outros pedestres.
Quanto ao xixi, prefiro sentar
em uma praia empesteada antes pela urina do meu cão, que
só come ração, do que pela urina de algum humano cuja dieta é composta por acepipes como calabresa mal passada, orelha de porco, entranhas de boi e
uísque falsificado.
E, se o problema é separar
quem odeia animais de quem
gosta, porque não dividir a
praia -como no caso das áreas
de fumantes e não-fumantes
nos restaurantes?
Tendo dito isso, aproveito o
ensejo para engatar uma segunda e subir a rua Ministro Rocha
Azevedo. A revista "Nosso Cão"
deste mês traz um editorial comentando o projeto do deputado Alberto Calvo, proibindo a
reprodução e a comercialização, no Estado, de cães das raças rottweiler, pit bull e mastim
napolitano.
Faço minhas as palavras do
amigo Synesio Ascencio, que assina o editorial. Veja o que ele
diz: "Gostaria de lembrar outras raças que deveriam ser incluídas na lista do deputado se
sua pretensão tivesse, porventura, algum fundamento. Foram
esquecidos, e isso é imperdoável, o dobermann, o fila, o bull
mastiff, o dodo argentino e até
mesmo os "cruéis' pastores alemão e belga. Ora, o que o deputado não sabe é que se ensinarem um cão a ser agressivo, seja
ele um yorkshire ou um rottweiler, ele vai atacar até a própria
sombra (...). Adequadamente
adestrado e socializado, o cão
passa a merecer toda a nossa
confiança. E cães confiáveis
normalmente não atacam".
QUALQUER NOTA
Compressa
É impressão minha ou as bolsas
debaixo dos olhos do ministro Malan começam a ficar parecidas com
as de um basset hound? Nesse caso, acho que vou tirar dinheiro da
poupança para comprar dois saquinhos de chá de camomila, a ser
enviados por Sedex ao Ministério
da Fazenda.
Persépolis
A julgar pelas imagens exibidas
na TV, a posse dos deputados em
Brasília foi uma farra de dar inveja
aos festejos promovidos pelo xá do
Irã. Falta de vergonha na cara não
se calcula em dólar.
Falta de criatividade
Em uma época em que todos estão de olho no seu dinheirinho, os
universitários bem que podiam
pensar duas vezes antes de colocar
calouros para disputar espaço nos
semáforos com mendigos.
E-mail: barbara@uol.com.br
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