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OPINIÃO
Tecnologia e Orçamento municipal
JOSÉ EDUARDO CARDOZO
Da administração pública pode-se dizer o mesmo que os antigos diziam da mulher de César: não basta ser honesta, mas tem de parecer
honesta. Não é para menos. Um
dos mais importantes princípios
constitucionais da administração
pública -o da publicidade- impõe a necessidade de transparência nas atividades administrativas,
garantindo à sociedade o direito de
conhecer todos os atos do poder
público.
Todavia, numa sociedade de
massas, um dos principais desafios
democráticos é criar mecanismos
institucionais e de comunicação
que possibilitem essa transparência. Como um cidadão pode saber,
em detalhe, o destino das verbas
públicas e intervir na sua fiscalização? Como, no plano institucional,
facultar o acompanhamento cotidiano da gestão governamental
numa máquina administrativa gigantesca como a do município de
São Paulo?
Pensando nisso, apresentei à Câmara Municipal projeto que obriga a prefeitura a tornar disponíveis
na Internet os textos integrais da
Lei Orçamentária, da Lei de Diretrizes Orçamentárias, do Plano
Plurianual em vigor e a execução
do Orçamento, bem como a disponibilizar por essa mesma via balancetes orçamentários, financeiros e patrimoniais das administrações direta e indireta, a posição
mensal das dívidas interna, externa e flutuante, os demonstrativos
da variação patrimonial, os comparativos da receita orçada com a
receita arrecadada e da despesa autorizada com a realizada. Se aprovada, a proposta permitirá ainda a
consulta direta ao Sistema de Execução Orçamentária.
Por meio dessa medida, contribuintes, sindicatos, entidades da
sociedade civil e veículos de comunicação, entre outros, poderão
acompanhar a execução das ações
da administração municipal e todas as decisões que, com maior ou
menor amplitude, afetem a vida da
comunidade. Um cidadão poderá
saber, por exemplo, se a rua onde
mora, incluída no programa de asfaltamento, será mesmo asfaltada
ao longo do ano ou se sua verba terá sido desviada para outro fim.
Comunidades da mais distante
periferia poderão exercer o legítimo direito de pressionar seu vereador ou o próprio Executivo para garantir que as verbas previstas
no Orçamento sejam realmente
destinadas para a construção de
escolas ou creches no seu bairro.
Com isso, a exemplo do que já se
faz em grandes cidades e países europeus, usaremos um dos mais notáveis avanços tecnológicos da
nossa era para atender às exigências da democracia e da transparência na gestão da coisa pública.
José Eduardo Cardozo, 39, advogado, é procurador do município, professor de direito da PUC
(Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo e
vereador pelo PT-SP.
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