São Paulo, domingo, 03 de março de 2002

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Mamografia falha em diagnóstico

DA REPORTAGEM LOCAL

Há um ano, a professora aposentada Maria Aparecida Pereira, 56, foi surpreendida com a notícia de um tumor na sua mama esquerda. Seis meses antes, ela havia feito uma mamografia, que não detectara alteração no seio.
Ao perceber no auto-exame um caroço e, logo depois, um abaulamento da mama, ela procurou o médico. Uma biopsia confirmou o câncer, mas já era tarde: Maria teve a mama extirpada. "Sinto-me traída", afirma.
Esse sentimento não é exclusivo de Maria. Anualmente, cerca de 3.000 mulheres são vítimas do mesmo erro. A mamografia não detecta de 10% a 15% dos casos de câncer de mama.
O motivo, dizem os médicos, é a densidade do tecido mamário de muitas mulheres, principalmente as mais jovens, que não permite a visualização dos tumores.
Na mamografia, esses tecidos aparecem brancos, dificultando a visão de um possível tumor, que também fica com essa cor, ou seja, não é contrastado. As mamas gordurosas levam mais vantagem porque a gordura aparece escura.
Mesmo com esse índice de falhas, os mastologistas afirmam que o exame é fundamental para o diagnóstico precoce do câncer de mama, porque é capaz de detectar tumores muito pequenos.
O médico Edison Mantovani Barbosa, do IBCC, afirma que somente a mamografia mostra microcalcificações que podem representar o câncer no estágio inicial, quando ainda é possível preservar a mama.
No Brasil, os serviços públicos de saúde só realizam a mamografia em mulheres acima de 50 anos, ou em aquelas de alto risco ou com suspeitas de doenças mamárias. Cerca 70% dos casos de câncer de mama são registrados em mulheres entre 45 e 65 anos.
Há dez dias, o governo dos EUA recomendou que as mulheres acima de 40 anos façam a mamografia a cada um ou dois anos.
Para o médico Pedro Aurélio Ormonde, do Inca, ainda há pouca evidência do benefício do exame nas mulheres com menos de 50 anos. "Em termos epidemiológicos e de saúde pública, a mamografia não deve ser utilizada em programas maciços."
Para o mastologista Luiz Henrique Gebrin, da Unifesp, a decisão americana é mais política do que apoiada em pesquisas científicas. Ele diz que o Brasil deve continuar intensificando o controle em mulheres acima de 50 anos, quando há quatro vezes mais chances de detecção da doença.


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