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AMBIENTE
Poluição em São Paulo abrevia vida de plantas e faz com que gerem mais sementes para criar descendentes, dizem técnicos
Estresse faz quaresmeiras florirem mais
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o tempo de vida reduzido
pela poluição, as quaresmeiras de
São Paulo estariam dando floradas mais viçosas e mais frequentes. Alguns grupos da árvore, por
conta do estresse da cidade, chegam a florir três vezes por ano.
Segundo biólogos e engenheiros, as plantas estressadas sabem
que terão vida mais curta e produzem mais flores para garantir
mais sementes e mais "descendentes". "A floração é a forma de
perpetuação da espécie. Nas quaresmeiras, as mais velhas vão ficando cada vez mais exuberantes", diz Luiz Rodolfo Keller, engenheiro florestal e diretor do
curso de jardinagem da Secretaria
Municipal do Meio Ambiente.
"Não há estudos científicos,
mas há anos observamos que as
quaresmeiras são mais viçosas
nas áreas que concentram mais
automóveis, como a avenida 23
de Maio", afirma Keller.
A florada das quaresmeiras pode ser observada por mais algumas semanas em muitos parques
e ruas da cidade. A Tidouchina
granulosa, seu nome científico, é
originária da mata atlântica e tem
flores nas cores roxa e rosa. No
Brasil, é conhecida como quaresma, ou flor de quaresma, porque
suas flores coincidem com o período pós-Carnaval. Nos países de
língua inglesa para onde foi levada, é conhecida como purple
glory tree e princess flower.
Na mata original, a quaresmeira
floresce duas vezes por ano -a
outra florada, menos intensa,
acontece em setembro/outubro- e chega a viver de 60 a 70
anos. "Com o estresse da cidade,
elas vivem menos de 50 anos e podem florescer três vezes por ano",
diz Keller. "As maiores vítimas do
estresse são as quaresmeiras que
se encontram isoladas nas ruas."
Os vilões são o monóxido de
carbono, produzido pela queima
de combustível dos veículos, e o
ozônio. A falta de adubação, o pequeno espaço para crescer e expandir suas raízes e as podas drásticas também apressam a morte
das quaresmeiras. "A floração depende muito de fatores ambientais", diz a bióloga Célia de Assis.
"Quando florescem, as plantas estão tentando produzir frutos e sementes para deixar descendentes.
Quando submetidas a um estresse, as árvores sabem que podem
perecer mais rápido."
Segundo Célia, existe uma lógica biológica no fato de a planta
florescer mais quando ameaçada,
como forma de preservar a espécie, mas ainda faltariam estudos
científicos que possam comprovar essa relação.
O engenheiro agrônomo
Eduardo Panten, do departamento de controle ambiental da Secretaria do Meio Ambiente, diz que
as quaresmeiras estão exuberantes porque se adaptaram bem às
cidades. Para ele, elas são plantas
que suportam bem a poluição atmosférica e suas floradas dependem dos períodos de luz. "A poluição por monóxido de carbono
já foi maior em São Paulo", diz.
"Olhem nossas flores"
Pouco importa o que está por
trás da exuberância das quaresmeiras, o importante é que estão
colorindo a cidade, concordam os
técnicos. "A florada das quaresmeiras é como se fosse o último
grito do verde da cidade", diz Mario Mantovani, presidente da organização não-governamental
SOS Mata Atlântica. "As árvores
estão pedindo, "pessoal, olhem
nossas flores"."
A bióloga e paisagista Alzira
Maria da Rocha Cruz diz que a
ameaça às quaresmeiras é seu
plantio em local inadequado, que
depois leva a podas drásticas.
"Elas chegam a 12 metros e atingem a fiação. Depois de várias podas, ficam deformadas e morrem." A maioria das quaresmeiras de São Paulo foram plantadas
há aproximadamente 20 anos.
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