São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2007

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Dirigente de associação de controladores diz que confia em solução do governo

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar da desconfiança dos controladores com uma virada de mesa do governo, um dos principais líderes da categoria, o sargento Moisés Almeida, dirigente da Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo, afirma que a categoria tem total confiança na solução que o governo oferecer na reunião de hoje, desde que retire o setor da Aeronáutica. Ele alerta que o "abandono" dos oficiais das salas de controle pode causar problemas porque estão isolados de contato com todo o setor técnico. Porém, diz que os passageiros estão seguros porque o monitoramento dos vôos está normal. Leia a seguir trechos da entrevista à Folha por telefone:

 

FOLHA - O Ministério Público Militar vai abrir um IPM. Isso infringe o acordo de que vocês não seriam punidos pelo motim?
MOISÉS ALMEIDA
- Na verdade não infringe. O Ministério Público é independente, tem que abrir o IPM e cumprir o trabalho deles. O que se espera é que ao longo do processo se arranje uma maneira legal de se arrefecer esse ânimo de revanche. A solução é política.

FOLHA - Qual é o clima aí dentro, é verdade que os oficiais abandonaram vocês?
ALMEIDA
- É verdade.

FOLHA - Estão com medo de represálias da Aeronáutica?
ALMEIDA
- Aqui em Brasília está mais tranqüilo, o pessoal é mais consciente. Em Recife, o clima está estupidamente pesado.

FOLHA - Vocês estão dispostos a concordar com a solução que o governo apresentará hoje?
ALMEIDA
- Estamos confiando muito que a solução será adequada. Só não queremos mais ficar com a FAB, não serve mais para nós. No âmbito da Força Aérea não cabe mais, o modelo de gestão acabou, se esgotou.

FOLHA - Em Washington o presidente Lula disse que a reivindicação de vocês era justa. Mas chamou vocês de "irresponsáveis".
ALMEIDA
- As instituições que prevalecem na nossa sociedade são a Igreja e o militarismo. Ele deve estar sendo muito pressionado pelo Exército e pela Aeronáutica a respeito de medidas a serem tomadas.

FOLHA - O que faltou?
ALMEIDA
- Faltou vergonha na cara da mídia.

FOLHA - Como assim?
ALMEIDA
- Vocês ficam só com o governo, que tem mais poder. Agora a gente sofre as conseqüências perante a opinião pública. A grande verdade é que estamos fazendo tudo isso em nome da segurança aérea.

FOLHA - E qual é o nível de segurança para o passageiro?
ALMEIDA
- Estamos trabalhando aqui voluntariamente, fora de escala. Vamos nos arrebentar, mas vamos tocar isto daqui. A Força Aérea não está colaborando, mas vamos fazer a nossa parte. Agora, se acontecer alguma coisa de origem técnica ou fora da nossa esfera, nós só vamos poder comunicar.

FOLHA - O que pode acontecer? Pane de equipamento?
ALMEIDA
- Nossa comunicação com a parte técnica está cortada, não estamos conversando com eles. Essa Medida Provisória tem que vir rapidamente para estabelecer um secretário para nossa área. Ele vai ter que agir para viabilizar a manutenção do serviço.

FOLHA - Como vocês querem que seja a desmilitarização?
ALMEIDA
- Precisa desmilitarizar a estrutura toda, eles já entenderam bem isso. O sistema hoje já é dividido. O sinal de radar e a freqüência que vai para a Defesa Aérea não é o que vem para nós. Eles [FAB] alegam que é tudo deles, foram eles que instalaram. Mas o dono é a União, o Estado.

FOLHA - O que gostariam de dizer ao presidente Lula?
ALMEIDA
- Que confiamos nele.


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