São Paulo, domingo, 03 de abril de 2011

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ANÁLISE

Utilização é a melhor forma de preservar o patrimônio

CARLOS FAGGIN
ESPECIAL PARA A FOLHA

O que há em comum entre a Casa da Boia, Editora Global, Shopping Light, Casa das Rosas, estação da Luz?
Todos são imóveis de valor histórico para a cidade. Tombados ou não, mantêm suas características originais. Por isso, são edifícios especiais. Seu valor não está apenas no preço do terreno ou em sua localização. Está principalmente na qualidade da sua arquitetura e no significado que essa arquitetura tem para a compreensão da história de São Paulo.
A melhor ferramenta para a preservação do patrimônio histórico paulistano é o uso, seja cultural, comercial ou de serviços. Esses edifícios são um exemplo eloquente disso.
O uso permanente é importante porque a falta dele convida à deterioração. Falta de uso quer dizer abandono. Esse abandono destrói qualquer imóvel ou até qualquer objeto: se não os usamos, eles viram poeira.
O ideal é que a maior parte desses imóveis tenha um uso ativo, e não apenas contemplativo, como é o caso dos museus.
O uso ativo incorpora a esses patrimônios a dinâmica social. Usar um imóvel é uma maneira de estabelecer uma relação quase de afeto com ele. Passamos a fiscalizar sua conservação, sua manutenção. Reclamamos quando as coisas não estão boas e exigimos melhorias.
Monumentos e igrejas são patrimônios excepcionais, mas não são os únicos com valor histórico. Nossas próprias casas, das quais somos responsáveis diretos pela manutenção, também são um patrimônio histórico.
Não é preciso que eles sejam tombados para que seus proprietários decidam mantê-los, prolongar a sua existência e comunicar esse valor à sociedade.
Não há duvida, porém, que o tombamento é uma obrigação e onera os proprietários que não podem fazer alterações de nenhuma natureza sem antes consultar os conselhos de preservação, que podem ser municipais, estaduais ou federal.
O resultado desse esforço é, no entanto, muito bom. Logo haverá linhas de financiamento para o restauro e a conservação desses bens, para que a sociedade possa dividir com os proprietários essa obrigação. Será uma forma de reconhecimento pelo esforço que eles fizeram para mantê-los até aqui.

CARLOS FAGGIN é arquiteto e professor de história da arquitetura da FAU/USP. Foi conselheiro do Condephaat/SP por seis mandatos


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