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OPINIÃO
Violência nas prisões
RENATO SIMÕES
As denúncias de espancamento e
tortura contra presos da carceragem do Depatri (Departamento de
Investigação de Crimes Patrimoniais de São Paulo), feitas no começo de fevereiro pela Pastoral
Carcerária e pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia
Legislativa, podem se transformar
num marco para a luta contra a
violência cotidiana nas prisões.
A firme determinação demonstrada pela Secretaria da Segurança
Pública em apurar o caso, que esperamos não seja prejudicada com
as mudanças na Corregedoria da
Polícia Civil, está permitindo a
produção de provas que não só
confirmam a veracidade das denúncias dos presos como definem
a responsabilidade dos policiais
civis, entre eles alguns delegados,
nessas sessões de espancamento.
Dos 130 casos apresentados pelas entidades, perícias confirmaram marcas de agressão por objetos contundentes em 107 presos.
Os depoimentos colhidos pela
Corregedoria indicam que policiais civis cometeram toda sorte de
brutalidades contra os presos,
que, nus, eram retirados de suas
celas para apanhar em corredores
poloneses, com socos, pontapés e
golpes de cassetete, barras de ferro
ou canos de arma de fogo.
O desmonte da versão de suicídio para a morte do preso Otávio
dos Santos Filho, ocorrida no Depatri em outubro de 1997, acrescenta elementos de convicção à tese de que a violência contra os presos daquela unidade decorre da
institucionalização de um método
truculento de obtenção de disciplina em distritos superlotados.
Devemos refletir seriamente sobre esse modelo, que tem por fim
exclusivo da pena a punição dos
que cometem crimes, sem nenhuma preocupação com sua ressocialização e seu retorno produtivo
ao convívio social. Ele é ineficiente, caro para o contribuinte -que
paga para ter a ilusão de proteção
do Estado- e indigno para os que
pagam com a privação de liberdade suas dívidas com a sociedade.
Em geral, o resultado dessa espiral de violência é o fortalecimento
da criminalidade: quem passa por
essas instituições penais degradadas sai delas pior do que entrou.
É urgente avançar na instituição
de penas alternativas para réus
primários de crimes de baixa intensidade; na proibição efetiva do
uso de distritos para a guarda de
condenados; numa nova política
penitenciária, que, baseada em
trabalho e educação, dê novas
oportunidades àqueles que enveredaram pelo caminho do crime e
que devem ter, por parte do Estado, o convite a uma nova vida e ao
respeito aos direitos da cidadania.
A identificação de responsáveis
por crimes bárbaros como os cometidos no Depatri será a garantia
de que a impunidade não ajudará
a perpetuar um modelo falido.
Renato Simões, 36, formado em filosofia pela
PUC de Campinas, é deputado estadual pelo
PT-SP e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa
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