São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2000


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Você sabe a diferença entre maconha e crack?

BARBARA GANCIA
Colunista da Folha


"Dei uma facada no Danilo nas costas. Como o cabo quebrou, enfiei a lâmina na boca dele e empurrei com o pé". O autor dessa frase bacaninha, Luciano de Almeida, 23, o Quaquá, é usuário de crack. Com a ajuda do amigo Cristiano Fondello Domingues, 20, ele assassinou três estudantes, na madrugada do último dia 23, em Mongaguá.
Quaquá e Cris esfaquearam os três rapazes, perfuraram seus corpos várias vezes com espetos de churrasco e ainda queimaram um deles.
Na manhã seguinte ao crime, refeito da "viagem" de crack, Cris disse a um tio que havia cometido uma "besteira". À polícia, o dependente dessa droga imunda declarou ter sido moleza matar os estudantes: "Eles morreram como cordeiros".
Qualquer um com mais de dois neurônios consegue perceber que Quaquá e Cris não usaram a energia necessária para cometer esses crimes apenas para levar um telefone celular, R$ 300, um discman e um relógio.
Qualquer um com um cérebro do tamanho de uma ervilha pode deduzir que eles se transformaram em sádicos assassinos por conta de uma equação muito simples: crack + pobreza + ignorância = perda total de limites.
É óbvio como a luz do dia que o crack é a pior de todas as drogas. Mas, em plena virada de século, ainda existem batráquios que se recusam a entender o problema e continuam a colocar tudo no mesmo saco. Para certos infelizes, maconha, cocaína e crack são a mesma coisa.
Quantas vezes o caro leitor já não ouviu alguém dizer que fulano de tal ficou violento porque estava sob efeito de maconha? Outro dia o filho do prefeito não foi autuado depois de brigar com a namorada e o que acabou prevalecendo foi a impressão de que ele havia enlouquecido porque fumara um cigarro de maconha?
Pois, de uma vez por todas, vamos deixar bem claro que a única maldade que alguém pode cometer sob o efeito de maconha é atacar a geladeira. Álcool e maconha juntos são outros quinhentos. Mas dizer que Victor Pitta do Nascimento é violento ou que ficou violento porque fumou maconha é como dizer que o túnel Ayrton Senna foi superfaturado para dar dinheiro à caridade.
É preciso entender que o crime nesta cidade só aumentou por conta do consumo de crack. Como também é preciso enfiar na cabeça que o Estado deve rever com urgência a taxação de bebidas alcoólicas e cigarros. Alguém já viu trago ou pitada mais baratos do que aqui?

Preços internacionais
Somos mesmo pobres de marré. Os chefes de família que podem pagar R$ 10 por cabeça para entrar em cada pavilhão da Mostra do Redescobrimento não precisam temer as filas. Como ocorre no Hopi Hari, por conta do preço do ingresso, a mostra não lota nem a flechadas.

Higiênicos
É limpinho o pessoal da Câmara e da prefeitura que sabe que não verá mais o atual local de trabalho após as eleições. Como gostam de ver tudo tinindo, alguém duvida de que eles promovam uma faxina geral nos cofres antes de partir?

Penitência
Se você deseja castigar os olhos ou gosta de conviver com a falta de funcionalidade, corra para o novo shopping Villa-Lobos.

E-mailbarbara@uol.com.br


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