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INVESTIGAÇÃO
Delegados suspeitam que selos desviados de cartórios são usados para "legalizar" documentos falsos
Polícia apura derrame de falsificações
SORAYA AGÉGE
da Reportagem Local
A força-tarefa que investiga
fraudes no Detran (Departamento Estadual de Trânsito) de São
Paulo identificou a existência de
um esquema de desvio de selos de
autenticação, usados pelos cartórios do Estado, para a "legalização" de documentos falsos.
Os delegados-corregedores que
atuam no Detran suspeitam que
esses selos estejam sendo usados
para uma série de finalidades,
além do comércio e da liberação
de veículos irregulares.
Os selos de autenticação, produzidos com técnicas que evitam
falsificações, são furtados ou roubados de cartórios de registros civis. Só neste ano, pelo menos cinco cartórios da Grande São Paulo
e do interior foram assaltados.
Com os selos, os falsários produzem desde carteiras de identidade, carteiras de trabalho, procurações e até documentos de
transferência de veículos como se
tivessem comprovação oficial, registrada em cartório.
As polícias não têm controle sobre os selos usados pelos falsificadores e, para ficar protegido, o cidadão precisa fazer a conferência
de seus documentos em cartório
(leia quadro nesta página).
Os delegados-corregedores que
atuam no Detran montaram um
inquérito sobre esse caso em março deste ano, mas mantêm sigilo
sobre as informações.
Prisão
Há menos de dois meses, por
meio da força-tarefa, a Polícia Civil desmontou um escritório na
Estação da Luz que fornecia selos
para quadrilhas de falsificadores.
Pelo menos dois dos chefes do
escritório foi preso. Os delegados
estão na pista de outros integrantes e investigam suas conexões
com outros tipos de falsificadores
(leia texto nesta página).
A Corregedoria Geral da Justiça
do Estado de São Paulo, que controla os cartórios, mantém um
processo-mãe sobre o desvio de
selos desde 1996, quando o sistema de carimbos utilizado pelos
cartórios, para autenticação de
documentos, foi substituído pelo
de selos holográficos.
Os cartórios fazem a comunicação sobre selos extraviados, roubados ou furtados à Corregedoria, que, por sua vez, publica os
números dos selos no "Diário Oficial" do Estado de São Paulo.
A polícia, entretanto, não possui
um sistema de verificação desses
selos. Assim, o cidadão comum
que não faz a leitura diária do noticiário oficial, fica desprotegido.
Pode, por exemplo, comprar um
veículo roubado ou até um imóvel
irregularmente.
A única alternativa é fazer a conferência de documentos nos próprios cartórios, que, além de aplicar os selos, são obrigados a manter o controle de seus registros em
livros.
Segundo os juízes-assistentes da
Corregedoria que atuam no caso,
todos os registros de roubos ou
furtos em cartórios são anexados
ao processo aberto em 1996.
Os cartórios comunicam a ocorrência à Polícia Civil e à Corregedoria. Na avaliação dos juízes que
atuam no caso, as polícias deveriam criar esquemas para verificação da numeração dos selos.
"A Corregedoria faz a comunicação dos selos cuja numeração
deve ser invalidada, por meio do
"Diário Oficial". Com isso, a polícia poderia auxiliar a população
na verificação dos selos", disse o
juiz-auxiliar da Corregedoria Antonio Carlos Morais Pucci.
O controle dos selos é feito também pela empresa Moore do Brasil, que os fabrica para o Estado.
A Corregedoria autorizou ontem a empresa, por ofício, a informar à Folha o número de selos
que podem estar sendo usados
por falsificadores, mas até o final
desta edição a Moore não tinha
apresentado os dados.
Mais procurado
Os cartórios autenticam documentos com o uso de quatro tipos
de selos. Um deles, conhecido como "laranjinha", foi lançado no
ano passado. Com ele, o cartório
reconhece um documento "por
semelhança". O documento não
chega assinado.
A assinatura é firmada na presença de um funcionário de cartório e as partes também assinam
um livro de registros. Esse selo é
mais utilizado para transferência
de veículos, mas pode ser usado
para outros fins.
O juiz-auxiliar da Corregedoria
Marcelo Fortes Barbosa Filho
afirmou que o sistema de selos foi
criado justamente para barrar a
ação dos falsificadores, em 1996.
"Antes, qualquer um produzia
carimbos imitando os cartórios.
Com esse sistema, é quase impossível fazer falsificações. Por isso
eles assaltam os cartórios", disse.
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