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GUERRA DOS MENINOS
Rebelião começou depois da transferência de internos para a unidade de Franco da Rocha
Menores destroem alas da Febem Tatuapé
ALENCAR IZIDORO
GABRIELA ATHIAS
da Reportagem Local
Adolescentes considerados de
menor periculosidade lideraram
ontem à tarde a quinta rebelião
consecutiva desde a última sexta-feira na Febem do Tatuapé (zona
sudeste de São Paulo).
O motim começou por volta das
17h30, menos de 15 horas depois
da transferência de 120 internos
do chamado circuito grave, que
abriga os mais perigosos, para as
novas instalações de Franco da
Rocha (Grande SP). A Polícia Militar só controlou a rebelião por
volta das 21h.
O interno M.G.O., 16, deixou, às
18h27, o seguinte recado na caixa
postal do celular de sua mãe: "Está o maior veneno aqui dentro.
Entre em contato que está a maior
rebelião. Estou até pensando em
fugir. Vê o que a senhora consegue fazer pela gente".
A tropa de choque da Polícia
Militar deslocou 120 policiais para
o complexo, o maior contingente
das últimas rebeliões. Parte deles
permaneceria vigiando as unidades durante a madrugada.
Oito das 16 alas foram atingidas,
nenhuma delas do circuito grave.
Duas ficaram totalmente destruídas. Uma monitora foi feita de refém. Três funcionários ficaram feridos. Até as 21h, a PM já havia recapturado 21 adolescentes. Não
havia informações sobre o número total de fugas no complexo, que
contava com cerca de 1.300 internos.
Segundo o comandante do policiamento de choque, Osvaldo de
Barros Júnior, os monitores abandonaram a Febem pouco antes de
os menores se rebelarem.
Ele sugeriu que, na noite anterior, monitores teriam quebrado
alguns cadeados logo depois que a
PM deixou o complexo.
"Tivemos que voltar. Alguém
abriu os cadeados. O Espírito Santo não foi."
Pela manhã, o presidente da Febem, Benedito Duarte, já havia
responsabilizado os funcionários
pela série de motins.
"Eles estavam no plano de facilitar fugas. Alguns funcionários
que faltaram ao serviço, boicotaram", afirmou. "Eles estão identificados e vamos fazer justiça. Alguns vão ser demitidos", disse.
O presidente do sindicado dos
funcionários da Febem, Antônio
Gilberto da Silva, negou as acusações. "Eles (Estado) é que estão
deixando acontecer (rebeliões)
para justificar a ida dos meninos
para Parelheiros."
De acordo com ele, a categoria
poderá decretar greve em razão
da falta de condições de trabalho.
Transferência
A transferência, na madrugada
de ontem, dos 120 adolescentes
para a unidade de Franco da Rocha ocorreu após quatro rebeliões
e 90 tentativas de fugas no Tatuapé, ocorridas entre sexta-feira e
anteontem. Até ontem de manhã,
40 desses adolescentes haviam sido capturados.
Durante a transferência, um
adolescente levou um soco de um
PM e teve quatro dentes quebrados. O Ministério Público vai pedir que os transferidos façam exames de corpo de delito.
Ainda ontem, o desembargador
Márcio Bonilha, presidente do
Tribunal de Justiça, derrubou a liminar que impedia a transferência de menores para a unidade de
Parelheiros (zona sul).
Para o Ministério Público e entidades de direitos humanos, as
duas novas unidades (Franco da
Rocha e Parelheiros) reproduzem
o sistema de penitenciárias comuns, são inadequadas para a implantação de trabalhos pedagógicos e descumprem o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Segundo os funcionários, esse
foi um dos motivos para os menores se rebelarem ontem à tarde.
O presidente da Febem disse
que a unidade "parece" uma cadeia porque o prédio foi adaptado
de um antigo presídio. "O importante é o trabalho pedagógico que
será feito", disse Duarte a uma
emissora de televisão.
Wilson Roberto da Luz, diretor
do sindicato dos funcionários,
disse que monitoras fizeram boletim de ocorrência ontem à tarde
no 81º DP. Segundo ele, os adolescentes teriam feito desenhos eróticos das monitoras nas paredes,
com ameaças de estupro.
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