São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2000


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GUERRA DOS MENINOS
Rebelião começou depois da transferência de internos para a unidade de Franco da Rocha
Menores destroem alas da Febem Tatuapé

ALENCAR IZIDORO
GABRIELA ATHIAS
da Reportagem Local

Adolescentes considerados de menor periculosidade lideraram ontem à tarde a quinta rebelião consecutiva desde a última sexta-feira na Febem do Tatuapé (zona sudeste de São Paulo).
O motim começou por volta das 17h30, menos de 15 horas depois da transferência de 120 internos do chamado circuito grave, que abriga os mais perigosos, para as novas instalações de Franco da Rocha (Grande SP). A Polícia Militar só controlou a rebelião por volta das 21h.
O interno M.G.O., 16, deixou, às 18h27, o seguinte recado na caixa postal do celular de sua mãe: "Está o maior veneno aqui dentro. Entre em contato que está a maior rebelião. Estou até pensando em fugir. Vê o que a senhora consegue fazer pela gente".
A tropa de choque da Polícia Militar deslocou 120 policiais para o complexo, o maior contingente das últimas rebeliões. Parte deles permaneceria vigiando as unidades durante a madrugada.
Oito das 16 alas foram atingidas, nenhuma delas do circuito grave. Duas ficaram totalmente destruídas. Uma monitora foi feita de refém. Três funcionários ficaram feridos. Até as 21h, a PM já havia recapturado 21 adolescentes. Não havia informações sobre o número total de fugas no complexo, que contava com cerca de 1.300 internos.
Segundo o comandante do policiamento de choque, Osvaldo de Barros Júnior, os monitores abandonaram a Febem pouco antes de os menores se rebelarem.
Ele sugeriu que, na noite anterior, monitores teriam quebrado alguns cadeados logo depois que a PM deixou o complexo.
"Tivemos que voltar. Alguém abriu os cadeados. O Espírito Santo não foi."
Pela manhã, o presidente da Febem, Benedito Duarte, já havia responsabilizado os funcionários pela série de motins.
"Eles estavam no plano de facilitar fugas. Alguns funcionários que faltaram ao serviço, boicotaram", afirmou. "Eles estão identificados e vamos fazer justiça. Alguns vão ser demitidos", disse.
O presidente do sindicado dos funcionários da Febem, Antônio Gilberto da Silva, negou as acusações. "Eles (Estado) é que estão deixando acontecer (rebeliões) para justificar a ida dos meninos para Parelheiros."
De acordo com ele, a categoria poderá decretar greve em razão da falta de condições de trabalho.

Transferência
A transferência, na madrugada de ontem, dos 120 adolescentes para a unidade de Franco da Rocha ocorreu após quatro rebeliões e 90 tentativas de fugas no Tatuapé, ocorridas entre sexta-feira e anteontem. Até ontem de manhã, 40 desses adolescentes haviam sido capturados.
Durante a transferência, um adolescente levou um soco de um PM e teve quatro dentes quebrados. O Ministério Público vai pedir que os transferidos façam exames de corpo de delito.
Ainda ontem, o desembargador Márcio Bonilha, presidente do Tribunal de Justiça, derrubou a liminar que impedia a transferência de menores para a unidade de Parelheiros (zona sul).
Para o Ministério Público e entidades de direitos humanos, as duas novas unidades (Franco da Rocha e Parelheiros) reproduzem o sistema de penitenciárias comuns, são inadequadas para a implantação de trabalhos pedagógicos e descumprem o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Segundo os funcionários, esse foi um dos motivos para os menores se rebelarem ontem à tarde.
O presidente da Febem disse que a unidade "parece" uma cadeia porque o prédio foi adaptado de um antigo presídio. "O importante é o trabalho pedagógico que será feito", disse Duarte a uma emissora de televisão.
Wilson Roberto da Luz, diretor do sindicato dos funcionários, disse que monitoras fizeram boletim de ocorrência ontem à tarde no 81º DP. Segundo ele, os adolescentes teriam feito desenhos eróticos das monitoras nas paredes, com ameaças de estupro.



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