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MÁFIA DA PROPINA
Vereador cassado e outros 15 réus são considerados culpados por esquema de corrupção na Penha
Viscome é condenado a 16 anos
Folha Imagem
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O ex-vereador Vicente Viscome, condenado a 16 anos e quatro meses de prisão |
SÍLVIA CORRÊA
MARIANA VIVEIROS
da Reportagem Local
O vereador cassado Vicente Viscome (expulso do
PPB) foi condenado ontem pela Justiça a 16 anos e quatro meses de prisão em regime fechado sob acusação de comandar
um esquema de corrupção dentro
da Administração Regional da
Penha (zona leste de São Paulo),
órgão que controlou politicamente até o final de 1998.
A sentença de 708 páginas, dada
pelo juiz Rui Porto Dias, da 8ª Vara Criminal da capital, condena
também outros 15 réus envolvidos no esquema -3 dos quais já
estão presos no 77º DP.
São fiscais, engenheiros, administradores e ex-assessores do vereador na regional. Para eles, as
penas variam de um ano a 15 anos
e quatro meses de prisão (veja nomes e sentença no quadro). Todos podem recorrer da decisão.
Viscome, que foi o primeiro vereador cassado na história da Câmara Municipal de São Paulo, é
agora também o primeiro a ser
condenado no escândalo batizado de máfia da propina -um esquema de extorsão e desvio de
verbas encravado nos órgãos da
administração pública paulistana.
Preso desde 31 de março do ano
passado, após 22 dias de fuga, ele
não terá a chance de recorrer da
sentença em liberdade, tendo de
permanecer detido até que o veredicto do juiz da 8ª Vara Criminal
seja avaliado pelo Tribunal de Justiça -o que deve demorar cerca
de seis a oito meses.
A defesa de Viscome alega, porém, que a sentença tem vícios
que acarretam sua nulidade (leia
texto abaixo) e promete entrar
com um habeas corpus ainda esta
semana no Tribunal de Justiça.
Na decisão do juiz -tomada
384 dias após o início do processo-, além da prisão por concussão (utilizar cargo para exigir vantagem indevida) e formação de
quadrilha, Viscome é condenado
também a pagar multa de 5.400
salários mínimos (R$ 815,4 mil).
Há multa também para a maioria dos demais réus. Com a de
Viscome, elas somam 7.681,5 salários mínimos (R$ 1,6 milhão).
No caso de 15 réus, o juiz entendeu que os crimes foram continuados, ou seja, que as concussões e estelionatos praticados foram continuação de um primeiro
ato criminoso dos acusados.
Na prática, a opção pelo crime
continuado -que está previsto
no artigo 71 do Código Penal e havia sido proposto pelo próprio
Ministério Público- beneficia os
acusados. Isso porque, ainda que
o réu tenha cometido inúmeras
concussões ou vários estelionatos, ele é condenado como se tivesse cometido apenas um de cada um desses crimes, com pena
aumentada em até dois terços.
Sem a opção pelo crime continuado, o fiscal Clóvis Feitosa, por
exemplo, acusado de quatro concussões e formação de quadrilha,
seria condenado, no mínimo, a
nove anos de prisão. Como os delitos foram considerados continuados, a pena dele foi de quatro
anos, sete meses e 25 dias.
O Ministério Público classificou
como "exemplar" a sentença, mas
não descartou a possibilidade de
recorrer de certas condenações.
De acordo com o promotor Arthur Pinto de Lemos Jr., do Gaeco
(Grupo de Atuação Especial de
Repressão ao Crime Organizado),
o Ministério Público deverá terminar a análise da sentença no começo da semana que vem.
"Há penas que ficaram em patamares baixos e precisamos analisá-las. Há também a possibilidade
de intervirmos em favor de algum
réu que colaborou com o processo e não teve isso reconhecido na
sentença. Mas tudo isso requer
uma análise detalhada. Por enquanto, o que posso dizer é que
estamos bastante satisfeitos."
Para os promotores do Gaeco,
que investigam a máfia da propina, a sentença é indicador do destino de outros seis vereadores que
estão sendo processados por ligações com esquemas de corrupção
nas administrações regionais.
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