|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Perigo continua mesmo após acidente
DA REPORTAGEM LOCAL
Um carro dá um cavalo-de-pau
e sai em disparada. Por sorte, não
atinge as crianças que andam e
passeiam de bicicleta pela rua estreita e de calçadas irregulares.
À distância, alguns moradores
gritam em protesto. A manobra
arriscada até poderia passar despercebida em outra época se não
tivesse ocorrido cinco dias depois
do acidente que matou um garoto, feriu outro e terminou no linchamento do motorista.
O cavalo-de-pau ocorreu às 16h
de anteontem, a 100 metros da
calçada onde as duas crianças estavam quando foram atingidas.
No bar, a manobra arriscada e a
semana sem sinal do poder público são apontadas pelos moradores como um aviso de que nada
vai mudar no Parque Grajaú.
"Aqui é um bairro esquecido. A
criança fica na rua porque não
tem onde brincar. Não temos lazer, não temos nada", disse a moradora Márcia Regina da Silva, 38.
Para especialistas, essa descrença é o ponto de partida para tentar
explicar a prática de linchamento.
"O linchamento não pode ser
analisado só como um ato de barbárie. Como ato de justiça popular, ele expressa o conflito entre a
expectativa da população e o funcionamento das instituições da
Justiça", afirmou a socióloga Jacqueline Sinhoretto.
Para a auxiliar de enfermagem
Maria Lopes, 48, a terceira moradora da área, a descrença no poder público vem desde o final da
década de 70. O Parque Grajaú
nasceu da invasão de uma área
municipal. "Água, luz, esgoto, foi
tudo uma luta", disse.
Duas décadas depois do começo da invasão, veio o asfalto, depois o trânsito, atropelamentos e
as lombadas clandestinas feitas
pelo população.
As cinco lombadas da rua, segundo moradores, foram retiradas pela prefeitura. A Companhia
de Engenharia do Tráfego negou
o pedido de lombada oficial alegando falta de fluxo de veículos.
A convivência arriscada entre
crianças e motoristas também gerou outros episódios de violência.
Um ano atrás, a discussão entre
um motorista que reclamou dos
garotos jogando bola na rua e um
morador acabou em tiroteio a 20
metros do local do acidente do último sábado. O morador levou
cinco tiros, mas sobreviveu.
Texto Anterior: Violência: Após crime, Grajaú vive crise de consciência Próximo Texto: Mortes Índice
|