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COMPORTAMENTO
Em 23 cidades do mundo, foram encenadas situações nas ruas para testar a gentileza dos pedestres
Rio é a cidade mais cordial, diz pesquisa
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Considere três situações: 1) sem
perceber, um pedestre deixa cair
uma caneta na calçada; 2) uma
pessoa com a perna machucada
derruba as revistas que carrega e
tem dificuldade para retomá-las;
3) um cego tenta atravessar uma
rua de trânsito complicado.
Pois uma pesquisa repetiu essas
cenas em 23 cidades do mundo
para saber onde a população seria
mais prestativa -e o Rio de Janeiro, a única cidade brasileira incluída, ficou em primeiro lugar.
Publicado na última edição da
revista "American Scientist", o estudo foi conduzido nos últimos
seis anos sob o comando do professor Robert Levine, da Universidade Estadual da Califórnia.
Anteriormente, Levine já havia
feito o mesmo trabalho em 36 locais dos EUA. A partir daí, expandiu o campo de pesquisa para o
que chama de maior comparação
mundial do tema já feita. Foram
realizadas 2.000 simulações.
Para explicar o resultado, Levine pediu ajuda a um colega da Califórnia, o psicólogo Aroldo Rodrigues, que trabalhou em universidades do Rio e disse não estar surpreso. "Há uma importante palavra no Brasil: "simpático".
Não há equivalente em inglês. Refere-se a um conjunto de qualidades sociais desejáveis, como ser
amigável e agradável. Repare que
ser simpático não significa que a
pessoa é necessariamente honesta. É uma qualidade social. Os
brasileiros, especialmente do Rio,
querem muito ser simpáticos. E
ajudar estranhos faz parte dessa
imagem", diz Rodrigues.
Depois do Rio, o ranking traz,
pela ordem, San José (Costa Rica),
Lilongwe (Maláui, África), Calcutá (Índia) e Viena (Áustria).
"Descobrimos que as pessoas
em cidades de língua portuguesa
e espanhola tendem a ser mais
prestativas. As outras três cidades
na nossa lista -Madri, San Salvador e Cidade do México- ficaram bem acima da média", escreve Levine no estudo.
Outro destaque da pesquisa está
no fato de que os primeiros lugares foram em geral ocupados por
cidades de baixa renda per capita.
"Isso é consistente com a hipótese do "simpático". Pessoas em lugares em que as obrigações sociais
são mais fortes que a conquista
individual tendem a ser menos
produtivas economicamente,
mas têm mais vontade de ajudar
os demais. Essa tendência, no entanto, não vale para todos os lugares. Pedestres de cidades agitadas
como Copenhague e Viena foram
muito prestativos", diz Levine.
O pesquisador fez outros testes
e foi também a outras cidades,
mas a apuração acabou descartada por dificuldades de comparação. Um experimento, por exemplo, consistia em deixar, perdidas
na rua, cartas seladas e endereçadas e apurar quantas chegavam
ao destino. O problema é que, em
lugares como Tel Aviv, as pessoas
evitaram se aproximar dos envelopes com medo de atentados.
Os três últimos lugares na pesquisa ficaram para Kuala Lumpur, Nova York e Cingapura.
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