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São Paulo, sábado, 03 de maio de 2003

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COMPORTAMENTO

Em 23 cidades do mundo, foram encenadas situações nas ruas para testar a gentileza dos pedestres

Rio é a cidade mais cordial, diz pesquisa

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Considere três situações: 1) sem perceber, um pedestre deixa cair uma caneta na calçada; 2) uma pessoa com a perna machucada derruba as revistas que carrega e tem dificuldade para retomá-las; 3) um cego tenta atravessar uma rua de trânsito complicado.
Pois uma pesquisa repetiu essas cenas em 23 cidades do mundo para saber onde a população seria mais prestativa -e o Rio de Janeiro, a única cidade brasileira incluída, ficou em primeiro lugar.
Publicado na última edição da revista "American Scientist", o estudo foi conduzido nos últimos seis anos sob o comando do professor Robert Levine, da Universidade Estadual da Califórnia.
Anteriormente, Levine já havia feito o mesmo trabalho em 36 locais dos EUA. A partir daí, expandiu o campo de pesquisa para o que chama de maior comparação mundial do tema já feita. Foram realizadas 2.000 simulações.
Para explicar o resultado, Levine pediu ajuda a um colega da Califórnia, o psicólogo Aroldo Rodrigues, que trabalhou em universidades do Rio e disse não estar surpreso. "Há uma importante palavra no Brasil: "simpático". Não há equivalente em inglês. Refere-se a um conjunto de qualidades sociais desejáveis, como ser amigável e agradável. Repare que ser simpático não significa que a pessoa é necessariamente honesta. É uma qualidade social. Os brasileiros, especialmente do Rio, querem muito ser simpáticos. E ajudar estranhos faz parte dessa imagem", diz Rodrigues.
Depois do Rio, o ranking traz, pela ordem, San José (Costa Rica), Lilongwe (Maláui, África), Calcutá (Índia) e Viena (Áustria).
"Descobrimos que as pessoas em cidades de língua portuguesa e espanhola tendem a ser mais prestativas. As outras três cidades na nossa lista -Madri, San Salvador e Cidade do México- ficaram bem acima da média", escreve Levine no estudo.
Outro destaque da pesquisa está no fato de que os primeiros lugares foram em geral ocupados por cidades de baixa renda per capita.
"Isso é consistente com a hipótese do "simpático". Pessoas em lugares em que as obrigações sociais são mais fortes que a conquista individual tendem a ser menos produtivas economicamente, mas têm mais vontade de ajudar os demais. Essa tendência, no entanto, não vale para todos os lugares. Pedestres de cidades agitadas como Copenhague e Viena foram muito prestativos", diz Levine.
O pesquisador fez outros testes e foi também a outras cidades, mas a apuração acabou descartada por dificuldades de comparação. Um experimento, por exemplo, consistia em deixar, perdidas na rua, cartas seladas e endereçadas e apurar quantas chegavam ao destino. O problema é que, em lugares como Tel Aviv, as pessoas evitaram se aproximar dos envelopes com medo de atentados.
Os três últimos lugares na pesquisa ficaram para Kuala Lumpur, Nova York e Cingapura.


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