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OPINIÃO
Saídas para São Paulo
RUI TAVARES MALUF
Em abril, a Lei Orgânica paulistana completou oito anos de vida
sem que se regulamentassem importantes dispositivos, como os
que determinam a criação de subprefeituras (arts. 77 a 79) e a formação de conselhos de representantes (arts. 8, 9 e 54). Ambos são
meios para descentralizar e democratizar a gestão da metrópole.
Nenhum dos prefeitos, a quem cabe propor a regulamentação da
matéria, tomou providências.
Os vereadores deixaram sua regulamentação para a legislação ordinária, a fim de assegurar a aprovação da Lei Orgânica. Mas falharam ao não assegurar um prazo fatal para que tal matéria fosse deliberada. Sem haver obrigação, o
dispositivo virou letra morta.
As propostas parecem não ter
agradado às autoridades de modo
geral, pois transmitem a idéia
(equivocada) de promover uma
redução do poder político do prefeito e dos secretários, assim como
das atribuições dos vereadores.
Certamente, a maioria dos opositores não entendeu nada, e os defensores não souberam apoiá-la.
A gestão de Luiza Erundina foi
entusiasta da idéia, mas não se entendeu com as oposições em relação à forma de indicação dos subprefeitos e à composição dos conselhos de representantes. A gestão
de Paulo Maluf não tomou conhecimento do assunto, apesar de o
ex-prefeito ter sempre se proclamado um administrador e ter
abraçado o programa de qualidade total. Ele preferiu valorizar a repartição das administrações regionais com os vereadores que lhe davam sustentação parlamentar.
O atual prefeito, Celso Pitta, parece titubeante. Dá sinais de interesse pelo assunto, mas sua ação
preserva o sistema de divisão das
regionais com os vereadores, apesar de tal conduta se opor frontalmente a seu perfil tecnicista.
Quando Pitta procurou romper
com esse padrão, a principal consequência foram ameaças provenientes de sua base parlamentar.
Levando em conta só a lógica do
saneamento financeiro do município, seria inoportuno para o prefeito encaminhar agora a regulamentação das subprefeituras, devido aos custos que um planejamento apressado pode acarretar.
Mas, se o prefeito elaborar seu
raciocínio de forma a integrar a
melhor técnica administrativa e a
melhor formulação política, poderá aumentar os níveis de racionalidade da administração, recuperar
sua base de apoio parlamentar e
conferir legitimidade à sua gestão
em amplos setores da sociedade.
Esperamos que o prefeito tenha
a grandeza de tal gesto, o que poderá inverter um quadro político
extremamente desfavorável. O
momento é agora, antes de seu
mandato chegar à metade e de a
atual crise roubar-lhe, em definitivo, a capacidade de iniciativa.
Rui Tavares Maluf, 39, é mestre em ciências
políticas pela Unicamp e editor do boletim "Processo & Decisão"
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