São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

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SEGURANÇA

Proposta é para evitar que filhos virem alvo de sequestradores; colégio decide orientar alunos sobre crime

Para pais, até uniforme é motivo de medo

DA REPORTAGEM LOCAL

A notícia do sequestro de M.S.H., 16, deixou pais e alunos apreensivos e fez o Colégio Rio Branco, onde o garoto estuda, promover debates sobre esse tipo de crime. As medidas de seguranças, já severas, vão ser intensificadas, com a elaboração de uma espécie de cartilha anti-sequestro. Na discussão, até o uniforme da escola virou motivo de apreensão.
O debate sobre o sequestro foi uma iniciativa do próprio colégio. Enquanto os professores informavam a situação de M. aos cerca de 2.500 alunos e davam dicas de segurança nas salas de aula, funcionários da administração tentavam conter a ansiedade dos pais ao telefone.
"Todos ficaram muito apreensivos e o melhor era discutir o problema", disse o diretor-geral do colégio Rio Branco, Paulo Henrique Camargo Rinaldi.
Monitoramento por câmeras de vídeo, seguranças por todo o quarteirão e regras rígidas para a saída de alunos menores já faziam parte da rotina do colégio.
Mesmo com o fato de o sequestro de M. ter ocorrido distante da escola, as medidas de segurança estão aumentando para tentar acalmar os pais.
Mais câmeras e seguranças serão o primeiro passo. O próximo é trazer especialistas em sequestro para as salas de aula para dar dicas de como se cuidar. Com essas informações, será elaborada uma espécie de cartilha anti-sequestro que será enviada aos pais.

Uniforme
O sequestro do estudante sul-coreano fez muitos pais pensarem no uniforme de um colégio tradicional como uma ameaça na rua. Alguns sugeriram à direção que ele fosse abolido, outros, que o nome do colégio fosse mais discreto, para dificultar a identificação por possíveis sequestradores.
"Estamos estudando isso. Mas o uso do uniforme é importante também para o próprio sistema de segurança. Sabemos quem é e quem não é nosso aluno", disse o diretor-geral.
Rinaldi admite que é bem mais difícil garantir a segurança dos adolescentes do que dos alunos menores. "Orientamos para que andem em grupo e que evitem ficar na frente da escola", afirmou.
Mas, além do medo, a situação também revelou momentos de solidariedade. Com aula pela manhã, os colegas de turma de M., na 2ª série do ensino médio, se comprometeram a rezar todos os dias, às 18h, onde estivessem, para que M. fosse libertado o mais rápido possível.

Medo antigo
O medo vivido por pais e estudantes depois do sequestro de M. não é uma novidade para o estudante do Colégio Rio Branco A.S., 14. Três vezes assaltado no caminho de volta da escola e filho de uma gerente de banco, o garoto já andava apreensivo pelas ruas de Higienópolis, com medo de ser sequestrado.
"Antes eu tirava os óculos depois da aula para ir embora. Agora, coloco os óculos para conseguir ver bem quem está à minha volta", disse A., que mora a poucas quadras da escola.
"A notícia de que tenho um colega sequestrado serve de alerta de que isso pode acontecer comigo também", disse o estudante, que tenta só andar em grupo pelo bairro. Das três vezes em que teve dinheiro roubado, uma ele estava sozinho e em duas estava acompanhado de um único amigo.
Para ele, apenas o aumento do policiamento não adianta. "Engraçado que o sequestro aconteceu quase na frente da delegacia anti-sequestro", disse.
(GILMAR PENTEADO)


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