São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

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RIO

Facção criminosa atua em parceria com o Comando Vermelho

Investigações mostram presença do PCC em pelo menos sete favelas

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Investigações reservadas da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria da Segurança Pública do Rio e da Draco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado da Polícia Civil) revelaram que a facção criminosa paulista PCC (Primeiro Comando da Capital) está atuando em conjunto com o CV (Comando Vermelho) em pelo menos sete favelas da região metropolitana do Rio.
Segundo as investigações, há membros do PCC radicados nos complexos do Alemão e do Lins de Vasconcelos e nas favelas do Turano, Mangueira e Jacarezinho (zona norte). Também há pessoal do PCC na favela do Barbante (zona oeste) e no bairro Jardim Catarina, em São Gonçalo (cidade a 20 km do Rio).
A subsecretaria disse que a aliança PCC-CV tem como objetivo principal a troca de armas e drogas. O PCC se hospeda em redutos do CV e recebe, da facção fluminense, permissão para praticar crimes no Rio.
O subsecretário de Inteligência, Antônio Freire, disse que tem mantido um intercâmbio de informações com a polícia de São Paulo e que essa troca permitiu a ele elaborar um relatório sobre a aliança. O documento está sob sigilo para, segundo Freire, evitar que a divulgação atrapalhe o trabalho. Segundo ele, as investigações apontam o traficante Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, do CV, e César Roriz da Silva, o Cesinha, do PCC, como os principais articuladores da aliança. Marcinho VP está preso na penitenciária Bangu 1 (zona oeste). Cesinha está preso em São Paulo. O subsecretário disse que eles mantiveram contatos quando Cesinha esteve preso em Bangu 1.
As negociações entre PCC e CV são confirmadas pelo titular da Draco, delegado Ricardo Hallak. Segundo ele, membros da facção paulista já atuam como "matutos" (fornecedores de cocaína e maconha) para o CV. Hallak disse haver indícios da participação do PCC, em parceria com o CV, no atentado à Secretaria Estadual de Direitos Humanos em maio.
Segundo ele, há um integrante do PCC preso no Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado de São Paulo) que, no dia do ataque, estava no Rio "hospedado" em uma favela dominada pelo CV.
Uma ação conjunta das facções foi descoberta em dezembro. Na ocasião, estariam planejando o sequestro de um secretário estadual, provavelmente João Pinaud, de Direitos Humanos.
As suspeitas são reforçadas pelo fato de as siglas das facções estarem pichadas em favelas do Rio.
A chefe de investigação da DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes da Polícia Civil), Marina Maggessi, diz que integrantes do PCC vêm ao Rio para aprender técnicas usadas pelo CV, como a estrutura de uma boca-de-fumo. Segundo ela, o PCC costuma participar de "bondes" (comboio de traficantes armados) organizados pelo CV. Em troca, diz ela, o PCC facilita a entrada de drogas e armas no Rio, pois as principais rotas passam por São Paulo.



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