São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GREVE NA FFLCH

Oferta inclui a contratação, neste ano, de 45 professores e de outros 46 até 2004; estudantes querem 259

Proposta da reitoria divide docentes e alunos

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

A mais recente proposta da reitoria da USP (Universidade de São Paulo) para tentar pôr fim à greve dos alunos da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), que já dura 63 dias, causou um aparente "racha" entre os estudantes e os professores da unidade, que, até então, vêm apoiando o movimento.
Construída nas reuniões da comissão tripartite, formada por reitoria, alunos e professores, por sugestão de um grupo de notáveis da FFLCH, para discutir o fim da paralisação, a oferta inclui a contratação, neste ano, de 45 docentes (19 a mais do que os 26 já propostos anteriormente) e de outros 46 até 2004, de forma escalonada.
Os grevistas pedem 259 novos professores imediatamente; a comunidade acadêmica, 115.
"Vitória acachapante", "grande vitória", "avanço, porém insuficiente" e "fracasso total" foram algumas das avaliações de professores e estudantes a respeito da proposta, durante a plenária da faculdade, realizada na noite de ontem.
De um lado, os docentes se mostraram satisfeitos com o que consideraram um duplo sucesso -acadêmico e político- e pediram o fim da greve dos estudantes, alegando, entre outros, que o movimento, ainda forte e relativamente coeso, pode ser retomado nos próximos anos.
"Em negociação não existe resultado 100%. Não é só a reitoria que terá de ceder. É hora de encerrar a greve, sem que haja rompimento", disse o professor Leonel Itaussu de Almeida Mello, do Departamento de Ciência Política.
Mas os alunos afirmaram estar insatisfeitos com o resultado das negociações. Criticaram o que chamaram de campanha impositiva pelo fim da greve e questionaram a atitude dos representantes do grupo na comissão tripartite, por terem assinado a proposta.
Para alguns dos estudantes, que eram maioria na plenária, a proposta da reitoria teve justamente o objetivo de causar uma ruptura no movimento porque chegou bem perto do que pediam os professores para este ano. A oferta será votada pelos estudantes hoje à noite, em assembléia.
Os docentes também se reúnem amanhã e devem decidir se mantêm ou não o apoio à paralisação.

Divergências
"Tenho certas ressalvas [à proposta" e acho que haverá resistência por parte do movimento para aceitá-la porque ela mantém uma defasagem muito grande em relação ao que queremos", disse Antônio David, aluno de filosofia e membro da comissão tripartite.
"Independentemente de se aceitar ou não o acordo, a faculdade ainda vai ficar com um número de professores aquém do necessário para assegurar a qualidade de ensino", completou Renato Soares dos Santos, de história.
"Houve um avanço considerável em vários níveis. Primeiro, os alunos foram reconhecidos como interlocutores permanentes; segundo, a proposta da reitoria prevê uma política de contratação a médio prazo; terceiro, o documento deixa bem claro que os professores a serem contratados vão suprir demandas estritamente didáticas, ou seja, de sala de aula, o que deixa espaço para discussões futuras a respeito das necessidades para pesquisa, extensão e novos cursos", disse o diretor da FFLCH, Francis Henrik Aubert, que classificou a proposta como historicamente inédita.
"A reitoria fez o máximo que podia porque temos de olhar o quadro global da universidade; as outras unidades também têm necessidades, não é só a FFLCH. Estou otimista", disse Luiz Nunes de Oliveira, pró-reitor de pesquisa e membro da comissão tripartite.
A FFLCH tem hoje, segundo a diretoria da unidade, uma média de 35,2 alunos por professor, quando a da USP é de 14 para 1. Professores reclamam por darem aulas para até mais de 200 pessoas, mas a reitoria afirma que alguns docentes não dão toda a carga horária prevista e há problemas na grade de disciplinas.



Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Panorâmica - Pedofilia: Inglês é acusado de abuso de menores em GO
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.