São Paulo, sábado, 03 de julho de 2004

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VIOLÊNCIA

Autor dos tiros diz que foi desacatado e ameaçado

Delegado federal metralha policiais rodoviários na Dutra após bate-boca

DAS REGIONAIS, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
DO "AGORA"

Um delegado da Polícia Federal de São Paulo disparou pelo menos nove tiros de submetralhadora contra dois policiais rodoviários federais, ontem, após uma discussão às margens da via Dutra, em Taubaté (130 km de SP).
Conforme o inspetor-chefe da Polícia Rodoviária Federal em Taubaté, Waldiwilson dos Santos, o delegado alegou ter sido desacatado pelos policiais, que o ameaçaram. Segundo ele, o autor dos disparos é Silvio César Fernandes Dias, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da PF.
Mauro Marsilha dos Reis Filho, 36, e José Roberto de Toledo, 39, foram feridos nas pernas e não correm risco de morte.
A PF informou ontem que foi aberta uma sindicância para apurar o incidente, mas não divulgou o nome do delegado envolvido -alegando questões de segurança. Ele não será afastado durante as investigações. O mesmo procedimento foi adotado pelo comando da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Vale do Paraíba.
Segundo o inspetor-chefe da PRF, por volta da 1h30 de ontem, os dois policiais atendiam a uma ocorrência de acidente no km 114 da Dutra, após um ônibus atropelar dois cavalos. Nesse momento, três delegados e pelo menos dez agentes da PF se aproximaram em carros descaracterizados, trafegando pelo acostamento.
Segundo o inspetor, o delegado Dias informou aos policiais rodoviários que estava em perseguição a dois suspeitos de tráfico de entorpecentes que, supostamente, escoltavam uma Kombi na qual foram apreendidos 900 kg de maconha. Dias determinou que a pista fosse liberada. Os policiais, porém, alegaram ser impossível desobstruir a pista naquele momento, o que motivou a primeira discussão.
Após cerca de 30 minutos, quando a pista foi liberada, Dias continuou a perseguição. Após perder a pista dos suspeitos, os delegados voltaram ao local do bloqueio. Com uma submetralhadora nas mãos, ele se aproximou de Toledo, que estava dentro do carro. Segundo o inspetor-chefe, o delegado ameaçou fazer uma queixa contra os dois policiais por terem obstruído o trabalho dele.
Teve início uma nova discussão entre os dois e, em seguida, Dias disparou a submetralhadora contra Toledo, que foi atingido duas vezes na perna esquerda. Reis, que ainda permanecia no carro, foi em direção ao delegado e também foi atingido por sete tiros.
Dias ainda anunciou a prisão de Toledo e de Reis e os algemou.
O porta-voz da PF em São Paulo, Wagner Castilho, disse que o delegado agiu em "legítima defesa". Segundo ele, os policiais desacataram Dias. "Eles disseram que ali ele não mandava nada."
Ainda segundo Castilho, no momento em que Dias, na companhia de outro delegado, voltou ao local do acidente para prender Reis e Toledo por desacato, os policiais teriam se negado a se identificar e sacaram suas armas.
"As duas corporações sempre trabalharam juntas, e nunca houve atritos. Esse foi um fato lamentável e isolado", disse o inspetor-chefe. Segundo ele, a alegação do delegado de desacato "foi uma maneira que ele usou para se encobrir de um fato lamentável".
O pai de Toledo, o comerciante Pedro Neves de Toledo, 66, afirmou que Dias agiu com covardia. "Esse delegado tem que explicar o que aconteceu de tão grave para ele chegar a esse ponto."


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