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Policial é fotografado ao receber propina
O Ministério Público apreendeu ontem R$ 168 mil na casa de Fernando Barreto Ferrara, chefe dos investigadores do 15º DP de SP
Promotoria afirma que ele cobrava para permitir que 500 caça-níqueis ilegais funcionassem; investigação começou há um ano e meio
ANDRÉ CARAMANTE
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Após fotografar um dos chefes de investigadores da Polícia
Civil de São Paulo, Fernando
Barreto Ferrara, recebendo
propina para liberar o funcionamento de caça-níqueis, o Ministério Público revistou ontem a casa do investigado e
apreendeu R$ 168 mil e U$
1.123 no local.
Os promotores chegaram à
casa do policial, em Pirituba
(zona norte de São Paulo), após
o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado) infiltrar, há cerca
de um ano e meio e com autorização judicial do Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais), um agente do serviço de
inteligência no esquema de
corrupção.
O agente do Gaeco se passou
como um novo "maquineiro"
(explorador de caça-níqueis)
que queria atuar na região de
Santo Amaro e negociou diretamente com Ferrara o pagamento de R$ 200 em propina
para colocar quatro máquinas
em funcionamento na região.
O pagamento foi fotografado,
mas Ferrara, à época chefe dos
investigadores da 6ª Seccional
Sul de Polícia, responsável pela
coordenação de 13 delegacias,
não foi preso porque o Gaeco
queria descobrir outros integrantes do esquema.
Atualmente, ele chefia investigadores do 15º DP, que atende
a área nobre do Itaim Bibi, também na zona sul.
Um outro investigador, Herbert Gonçalves Espuny, também foi acusado de integrar o
esquema de concussão (extorsão cometida por empregado
público no exercício de suas
funções) e na formação de quadrilha para explorar o jogo.
Ferrara e Espuny foram procurados pela Folha, mas não
responderam aos pedidos de
entrevista. A Corregedoria da
Polícia Civil diz que, apesar dos
"fortes indícios" de irregularidade, eles serão, por enquanto,
só transferidos das funções.
As investigações do Gaeco
apontam que Ferrara era o "recolhe" (cobrador) da propina
dos donos dos caça-níqueis,
mas que nem todo o valor arrecadado ficava com ele, já que
policiais mais graduados da Polícia Civil também são suspeitos de integrar o esquema.
Escutas autorizadas pela
Justiça apontam diversas referências a pessoas tratadas por
"doutor" nas conversas.
A Promotoria apurou que
Ferrara e as pessoas do esquema recebiam ao menos R$ 25
mil todo dia 30 (R$ 50 por máquina) de pelo menos 500
equipamentos.
Além da propina para Ferrara, os donos desses caça-níqueis também pagariam, segundo a Promotoria, para policiais do 11º DP (Santo Amaro).
No dia 15 de cada mês, os policiais do 11º DP cobravam R$
35 por máquina (cerca de R$
17,5 mil); dia 30, era a vez dos
integrantes da 6ª Seccional.
"Eles [Ferrara e Espuny]
transformaram as funções que
exerciam como policiais em
um verdadeiro balcão de negócios. Eles negociavam a proteção dessas máquinas como se
tivessem negociando uma mercadoria lícita. Há absoluta certeza da impunidade por parte
desses policiais", disse o promotor Roberto Porto.
Advogado suspeito
Desde o dia 25 de maio, a
Promotoria e a Corregedoria da
Polícia Civil investigam um outro esquema de corrupção para
o funcionamento de caça-níqueis envolvendo o advogado
Jamil Chokr, que se envolveu
num acidente de carro e transportava R$ 38 mil que seriam
distribuídos para delegacias.
Nos documentos apreendidos dentro do Vectra blindado
de Chokr, existe uma lista que
aponta a presença de pelo menos 110 máquinas na área da 6ª
Seccional, com pagamentos de
propina entre R$ 35 e R$ 50.
"Precisamos da colaboração
máxima da corregedoria para
pegar todas as vertentes. Porque, nos últimos meses, sucederam-se investigações mostrando uma frente muito grande dessas máquinas e a colaboração do poder público, através
de agentes corrompidos, recebendo dinheiro para protegê-las", disse o promotor José Reinaldo Guimarães Carneiro.
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