São Paulo, sexta-feira, 03 de julho de 2009

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BARBARA GANCIA

We are the world não muito amigo


Michael Jackson não possuía, digamos, o equipamento físico ou mental para ser um molestador de crianças


A ESTA ALTURA, a gente já não sabe mais se dança o "moonwalk" ou se compra uma bicicleta. A minha gota d'água sobre tudo o que tem a ver com a vida e a morte de Michael Jackson veio na noite de quarta, quando o encerramento do "Jornal da Globo" mostrou imagens de um Ronaldo Fenômeno campeão da Copa do Brasil acompanhadas pela música "Billie Jean". Alguém consegue me explicar onde está o nexo?
É claro que eu gostava do Michael, ele era meu contemporâneo. Cresci assistindo ao desenho animado do Jackson Five na TV, dancei "Ben" um zilhão de vezes de rosto colado, depois fiquei mesmerizada com "Billie Jean", "Thriller" e "Bad", essas coisas que todo mundo e seu vizinho também sentiu. Mas, engraçado, não derramei nem uma lágrima quando soube que ele tinha morrido. E olha que eu choro até em comercial de DDDrin. Quando o cantor Leandro, da dupla Leandro e Leonardo, foi ter com o Criador, eu praticamente virei uma carpideira de Basra. Não parava mais de chorar. E olha que nem gostar da música deles eu gosto.
Acho que com o Michael a gente foi se acostumando a sorver a tristeza a conta-gotas. E, por causa das injustiças todas que ele sofreu (com aquele pai infame que, na terça-feira, ainda tentou vender seu novo selo de gravação para a imprensa), creio que, ao tomar conhecimento de sua morte, o sentimento tenha sido até de um certo alívio. Veja: acompanhei de cabo a rabo cada um dos programas com a reconstituição do que se passava no tribunal que foram apresentados pelo canal E! em 2005, na época em que o cantor foi a julgamento acusado de molestar o menino com câncer Gavin Arvizo.
Bastou assistir a uma ou duas dessas reconstituições com atores (as câmeras haviam sido proibidas na corte pelo juiz) para me convencer de que a família do guri estava tentando um golpe contra o rei do pop. Também parecia nítido que Michael Jackson não possuía, digamos, o equipamento físico ou mental para ser um molestador de crianças. Agora que ele morreu, ficou claro que não teria durado nem mesmo uma semaninha na prisão.
E nesse turbilhão de informações que andaram circulando, uma me deixou bastante perturbada. Bem, a esta altura a gente já não sabe mais em quem se apoiar. Uma hora a CNN diz que o enterro será em Neverland, depois desmente. Noutra, o site TMZ (que pertence à Warner) diz que existe um testamento e, mais tarde, desdiz.
Mas se for confirmada a notícia de que Jordan Chandler, o menino com quem Michael Jackson negociou um acordo de cerca US$ 20 milhões para não responder a processo por abuso sexual, está arrependido por ter mentido e só fez isso a mando do pai que queria dinheiro, muita gente terá de fazer o seu mea-culpa. Não fosse esse acordo, não teria existido o processo de 2005 e Michael Jackson não seria tachado abertamente de pedófilo pela imprensa do mundo inteiro.
Veja como são as coisas. Jackson precisou morrer para ver sua imagem de alguma forma redimida. Prova de que ainda temos algumas léguas a percorrer para aprender a conviver com o diferente. We are the world, mas cheio de hostilidade aos esquisitos.

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