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Aeronáutica entrega peças do Legacy a dona do jato
Repasse de equipamentos a investigada no caso pode prejudicar processo
Novas perícias perdem valor com o ocorrido; procuradora pediu explicações ao Cenipa para possível ação
ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO
Os principais equipamentos do Legacy envolvido no
acidente com o Boeing da
Gol, em 2006, foram entregues pela Aeronáutica à empresa norte-americana Excel
Aire Service -dona do jato-
sem autorização da Justiça.
Essa entrega, segundo o
Ministério Público Federal,
ocorreu de forma ilegal e pode prejudicar o andamento
dos processos na Justiça porque praticamente inviabiliza
novas perícias.
Os dois processos na área
criminal, que buscam os culpados pelo acidente que deixou 154 mortos, estão na fase
de produção de provas -etapa em que a Justiça pode determinar novas perícias.
As peças entregues à empresa -como a placa de rádio, o sistema anticolisão e a
caixa-preta- são pontos centrais da investigação.
O material foi recuperado
em maio passado pela Polícia Federal, em cumprimento à ordem da Justiça, depois
de ficar cerca de sete meses
em poder da ExcelAire.
Para a procuradora Analícia Ortega Trindade, responsável pelos casos, não há garantia de que nada foi alterado. Ela pediu explicações oficiais à Aeronáutica e pode
entrar com ação por crime de
fraude processual e improbidade administrativa.
Também pediu à Justiça
que as peças fiquem em poder da polícia de Cuiabá.
A procuradora diz que a
entrega foi injustificável, já
que o chefe do Cenipa (órgão
da Aeronáutica), o brigadeiro Jorge Kersul Filho, foi informado oficialmente da necessidade de guardar os
equipamentos cinco meses
antes de entregá-los.
O Cenipa diz que a devolução das peças à empresa
ocorreu dentro dos padrões
internacionais que adota.
FAMÍLIAS
O advogado Dante D'Aquino, representante da associação das famílias das vítimas,
disse que vai se reunir com a
procuradora para tomar conjuntamente uma medida
contra os oficiais do Cenipa.
"Qual motivo levaria o
chefe do órgão que investiga
o acidente a entregar os equipamentos ao dono da aeronave? Isso cheira muito
mal", diz D'Aquino.
As peças foram apreendidas pela Polícia Federal em
janeiro de 2007 e entregues
ao Cenipa para perícias e investigação do acidente.
Para a Procuradoria, o Cenipa deveria devolver os
equipamentos à Polícia Federal, e não a uma parte interessada no fim do processo.
A ExcelAire é dona do jato
e empregadora dos pilotos
Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, acusados de causar o
acidente ao desligar o sistema anticolisão da aeronave.
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