São Paulo, sábado, 03 de julho de 2010

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FRANCISCO PAPATERRA LIMONGI NETO (1921-2010)

O intérprete de Guimarães Rosa

ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO

Cena comum para os filhos de Francisco Papaterra Limongi Neto era vê-lo declamar poemas como "Navio Negreiro", de Castro Alves.
Paulistano do Brás e neto de italianos, Francisco formou-se em direito pela USP, nos anos 40. Nessa época, integrou a caravana artística da faculdade e conheceu o músico Paulo Vanzolini, que o inspirou a fazer poesias.
Seus textos tiveram duas linhas: uma, baseada na do amigo músico, falava da malandragem por meio de um personagem negro que gostava de samba e pedia para a seleção ser campeã em 1958 com a promessa de que começaria, enfim, a trabalhar.
A outra, mais original, trazia tipos italianos e misturava a língua de seus antepassados com o português.
O grande mérito da produção de Francisco está na oralidade, na interpretação. Por isso, registrou a obra em CD.
No fim dos anos 80, ficou viúvo e, devido a um problema nos olhos, perdeu 70% da visão. Casou-se novamente com uma mineira e seu mudou para Itamonte (MG). Aí, comprou uma máquina de ampliar textos e passou a se dedicar a Guimarães Rosa.
Falava, baixinho, trechos inteiros do autor, com gestos contidos. Era como se fosse o próprio Riobaldo, do clássico "Grande Sertão: Veredas".
Apresentou-se até em Cordisburgo (MG), cidade de Guimarães. Há anos aposentado como desembargador, vinha sempre a SP, trazido pela USP, para interpretar.
Na terça, morreu aos 89, de falência de órgãos. Teve seis filhos e 12 netos. A missa de sétimo dia será na segunda, às 19h30, na capela do Colégio Santa Cruz, em SP.

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