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Com baixo alcance, Saúde da Família patina em SP
No Estado, menos de 30% da população é visitada por equipes de saúde
SP tem 2ª pior cobertura do Brasil; ao contrário de MG e SC, Estado não envia verba específica aos municípios
RICARDO WESTIN
DE SÃO PAULO
Dois anos atrás, a família
de Fernando Vitorino, 38,
trocou um conjunto habitacional em São Paulo por uma
casa com quintal.
Subiu na escala social,
mas sente falta de uma coisa:
a equipe de saúde que todo
mês batia à porta para saber
do casal e dos dois filhos.
"Na gravidez, como ajudou! A enfermeira orientava
e via se minha mulher tinha
tomado as vacinas e ido ao
pré-natal", ele diz.
O bairro de Vitorino é o
mesmo, Itaquera (zona leste), mas a nova rua fica fora
da área do programa Saúde
da Família. A maioria dos
paulistas está na mesma situação. Só 27,4% da população do Estado é coberta pelo
Saúde da Família. É o segundo pior alcance do Brasil.
Há Estados onde mais de
95% da população é visitada.
O Saúde da Família conta
com médicos, enfermeiros e
agentes de saúde. Cada equipe cuida de mil famílias de
uma área, com visitas mensais. Detecta doenças, agenda consultas e exames, busca
quem faltou à consulta, vê se
o remédio está sendo tomado
e ensina a prevenir doenças.
Para especialistas, é importante até em locais onde
as pessoas dispõem de planos de saúde privados e hospitais públicos de ponta.
"Muitas doenças são resolvidas na atenção básica, com
pouco dinheiro, antes de se
complicarem e exigirem tratamentos caros no hospital",
explica Gustavo Gusso, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família.
Ele cita a hipertensão arterial como exemplo. Quando
não é tratada, pode levar a
enfarte, AVC e lesão nos rins.
VERBAS
O Saúde de Família foi
criado em 1994. Cerca de metade dos brasileiros -97,8
milhões- é coberta. Um dos
obstáculos para a expansão é
a falta de médicos que trabalhem em áreas distantes, miseráveis ou violentas.
Em SP, pesa outro fator. O
Estado não destina verbas específicas aos municípios.
A responsabilidade direta
é das prefeituras -recebem
do ministério R$ 6.500 mensais por equipe. O valor só cobre metade do custo. O resto
sai dos cofres municipais.
Embora os Estados não estejam obrigados, 17 financiam o Saúde da Família.
"O incentivo estadual faz
falta", diz Ligia Giovanella,
diretora do Centro Brasileiro
de Estudos de Saúde.
Dos 304 municípios sem o
programa, metade fica em
São Paulo. Osasco é um deles. "Precisaríamos aumentar muito o salário dos médicos, mas não há verba", diz
Gelso de Lima, o secretário
da Saúde da cidade.
Na capital, o alcance é de
31,7%, segundo o ministério.
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