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ACIDENTE EM MARESIAS
Para Aeronáutica, comandante do helicóptero deveria abortar descida caso julgasse a operação arriscada
Piloto estava "por conta e risco próprios"
DA FOLHA VALE
DA REPORTAGEM LOCAL
O piloto Ronaldo Jorge Ribeiro
estava ""por conta e risco próprios" ao se aproximar de Maresias (litoral norte de SP) no helicóptero do grupo Pão de Açúcar,
de acordo com o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica.
Caso julgasse arriscado descer,
por causa da forte chuva, deveria
abortar a operação e deslocar-se
para o local seguro mais próximo,
no caso, a cidade de Santos.
Segundo a assessoria da Aeronáutica, Ribeiro poderia ter se informado sobre as condições do
tempo no litoral paulista ainda no
aeroporto do Campo de Marte,
em São Paulo, de onde ele decolou
na sexta-feira por volta das 16h30.
Após uma parada no heliponto
do grupo Pão de Açúcar, na avenida Brigadeiro Luiz Antonio, por
volta das 17h30, seguiu para Maresias, onde o helicóptero ficou no
centro de um ciclone. Ribeiro
morreu no acidente.
Ventos
A passagem do ciclone pode ter
provocado a queda do helicóptero, segundo o meteorologista do
CPTEC (Centro de Previsão de
Tempo e Estudos Climáticos)
Fernando Lemos.
De acordo com ele, durante a
ocorrência do fenômeno na última sexta-feira, os ventos atingiram até 25 km/h, o triplo da velocidade que normalmente é registrada na região.
A aeronave, segundo o co-piloto Luís Roberto de Araújo Cintra,
35, caiu no mar de ponta cabeça.
Cintra e João Paulo Diniz conseguiram nadar 3 km até a praia.
Um dia após a queda, segundo os
bombeiros, a região registrou rajadas de vento de até 40 km/h.
Os efeitos da frente fria se estenderam da região central de São
Paulo até a região sul do Rio de Janeiro, mas estavam mais intensos
no litoral norte paulista, especificamente no oceano, local onde o
ciclone foi formado.
O CPTEC prevê a ocorrência de
frentes frias e, consequentemente,
a formação de ciclones, com dois
dias de antecedência. As previsões do centro estão disponíveis
no site www.cptec.inpe.br.
Segundo o meteorologista Sérgio Calbete, os dados climáticos
também são trocados com a Aeronáutica, que elabora uma previsão própria e as distribui para os
aeroportos espalhados pelo país.
A partir dessa carta do tempo,
disse Calbete, é que as rotas de
vôos são elaboradas e os pilotos
podem decidir se há condições ou
não para as viagens.
"O aeroporto dá as orientações
para os vôos, e o piloto sabe disso.
Se mesmo assim ele decide prosseguir viagem, ele deve assumir os
riscos", afirmou Calbete.
Lemos disse que os ventos e
chuvas do ciclone com a intensidade observada na sexta-feira podem causar instabilidade e prejudicar os vôos de qualquer aeronave, principalmente de helicópteros, mas as condições são normalizadas após três horas.
"No momento do ciclone não
há condições de vôo, mas se o piloto esperar as três horas, ele pode
voar por cima das nuvens e não
enfrentar dificuldades", disse.
O piloto Ribeiro não tinha como saber exatamente a situação
do tempo em Maresias, durante o
vôo até a praia, porque não existe
estação meteorológica na região.
Segundo a Aeronáutica, os dados
sobre as condições climáticas são
fornecidas, em geral, pela torre de
controle de São Paulo.
Os pilotos podem ainda, de
acordo com o DAC (Departamento de Aviação Civil), comunicar-se com qualquer torre próxima para obter informações meteorológicas. No caso, Santos ou
São José dos Campos.
Em aeroportos com controle de
vôo, por exemplo, há um novo
boletim meteorológico a cada 30
minutos para guiar os pilotos que
se aproximam. As informações
são passadas via rádio.
O heliponto onde o helicóptero
desceria é privado, homologado
pelo DAC, mas não possui um
centro de controle de vôo. Não há
exigência disso na lei.
Laudo
O laudo da morte do piloto Ronaldo não conseguiu apontar o
dia em que ele teria morrido.
Confirma apenas que a morte
do piloto foi por afogamento, já
que seu corpo não apresentava
nenhum hematoma ou outro sinal que indicasse algum tipo de
traumatismo.
(ALESSANDRO SILVA E KEILA RIBEIRO)
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