São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2001

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TRANSPORTE

Após seis meses de "tolerância", prefeitura triplica apreensões de lotações irregulares

Marta fecha cerco aos perueiros

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Após seis meses "tolerando" a atuação dos perueiros na cidade de São Paulo, a administração Marta Suplicy (PT) resolveu apertar a fiscalização: 1.529 lotações foram apreendidas em julho, quase 50 por dia, triplicando a média mensal até então. A quantidade é, de longe, recorde na gestão petista. A maior marca deste ano era de junho, quando 798 veículos foram levados aos pátios da SPTrans (São Paulo Transporte).
Das 1.529 lotações apreendidas no mês passado, 1.228 eram clandestinas. Para retirar cada uma, os perueiros gastam mais de R$ 4.000. As demais estão entre as quase 6.000 cadastradas, mas foram retidas por apresentar outras irregularidades. Por exemplo: transporte de passageiros em pé. Nesses casos, os veículos ficam 24 horas sem poder circular, mas os motoristas gastam apenas R$ 38.
O cerco aos perueiros é resultado do acordo feito com as empresas de ônibus em maio. Na época, Marta aumentou a tarifa de R$ 1,15 para R$ 1,40, prometeu combater a concorrência clandestina e, em troca, obteve a promessa de que mil novos ônibus estariam nas ruas até outubro.
O objetivo de recuperar parte dos passageiros ao sistema, porém, não está sendo atingido. O Transurb (sindicato das viações) diz que, em julho, foram transportados 83 milhões, queda de 5,7% em relação ao mesmo mês de 2000, quando 88 milhões usaram os ônibus. "Eles dizem que estão fiscalizando as peruas, mas não há influência nenhuma na receita das empresas", diz Sérgio Pavani, presidente da entidade.
A SPTrans atribui a elevação das peruas apreendidas a uma mudança de planejamento da fiscalização, que permitiu maior agilidade. O ritmo em julho, atingindo 1.529 apreensões, superou até mesmo aquele dos dois últimos anos do governo Celso Pitta (PTN). De janeiro a julho de 1999, os fiscais apreendiam, em média, 687 por mês. No mesmo período de 2000, a média mensal era de 1.294. Nessa época, apenas os clandestinos acabavam retidos.
A nova posição da gestão Marta também reacende a guerra entre a prefeitura e a categoria. Mesmo antes da ampliação das blitze, a reação dos perueiros já assustava. Eles são suspeitos de incendiar ou depredar um ônibus a cada dois dias, em média, no primeiro semestre deste ano. Em 2000, a média era de um a cada três dias.
Entre as retaliações mais recentes à fiscalização da SPTrans está a destruição de um dos novos ônibus do lote de mil prometido pelas viações. Em 8 de julho, perueiros incendiaram um zero-quilômetro da viação Bola Branca, em Cidade Ademar (zona sul).
No último dia 31, houve outra retaliação violenta: um grupo de 30 cercou três carros da fiscalização, na Lapa (zona oeste), agredindo-os com paus e pedras e jogando bombas caseiras.
Laercio Ezequiel dos Santos, líder dos clandestinos da zona sul, ameaçou jogar sangue de animais em prédios municipais em protesto contra a prefeitura.
Ontem ele voltou atrás e disse que vai encomendar pétalas de rosas para jogar no Palácio das Indústrias, durante uma manifestação na próxima terça-feira. "A fiscalização nunca esteve tão violenta. Estou até com saudades do Pitta", disse Santos, que já foi preso, no ano passado, por incitar a destruição de veículos da prefeitura.


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