São Paulo, sábado, 03 de agosto de 2002

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SEGURANÇA

Dois homens e uma mulher, que filmavam ação da tropa de choque em Osasco, disseram estar a serviço da Folha

Falsos jornalistas agem em operação da PM

DA REPORTAGEM LOCAL

Dois homens e uma mulher foram flagrados, na manhã de ontem, ao tentarem passar por jornalistas da Folha durante operação da Polícia Militar para a retirada de sem-teto de uma área pública em Osasco (Grande SP).
Os dois homens alegaram prestar serviços ao jornal, e um deles, que carregava uma filmadora, chegou a mostrar uma carteira falsa da empresa.
Após serem descobertos por outros repórteres, os falsos jornalistas conversaram, por vários minutos, com os PMs que participavam da operação. Acabaram sendo liberados pela polícia, sem maiores explicações.
Cerca de 400 policiais estavam ontem na região do terreno no Jardim Ester, ocupado por cerca de 600 famílias na madrugada do último sábado. Os policiais iriam cumprir mandado de desocupação da área -cassado no começo da tarde de ontem. Jornalistas de diferentes veículos acompanhavam as mediações entre policiais e sem-teto desde as 6h.
Informada de que três pessoas se faziam passar por profissionais do jornal, a reportagem da Folha questionou um deles, que falava ao telefone com uma pessoa que disse ser seu chefe, para que mostrasse uma identificação. O falso repórter afirmou "prestar serviços" à Folha e não respondeu para quem se reportava. Apresentou-se como Alexandre, mas se recusou a mostrar a identidade.
O segundo falso repórter também se disse prestador de serviços, mesmo segurando uma filmadora. Após discussões com sem-teto e jornalistas, ele mostrou um falso crachá da Folha.
O candidato ao governo do Estado pelo PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), Dirceu Travesso, que representava os sem-teto, chamou dois policiais para que exigissem a identificação dos dois homens.

Liberados
Os PMs olharam as identidades dos dois e também pediram documentos de alguns repórteres de outros veículos. Na confusão, os dois homens foram embora.
O major Walber Ferreira Moreno, que participava da operação, admitiu que houve uma falha da PM, já que, o correto, seria levá-los a delegacia, uma vez que apresentaram documentos falsos. Mas disse que não tinha conhecimento do caso e que iria averiguar assim que a operação de desocupação terminasse.
Mais tarde, os dois homens foram vistos com PMs, que se recusaram a identificá-los. Após serem fotografados pela Folha, foram embora. A terceira pessoa que estava com os falsos repórteres, uma mulher, também não quis declarar seu nome.
Os três deixaram o local em uma Ipanema azul de placa BPA-3142. A Folha verificou a placa no cadastro estadual de veículos e não encontrou a numeração.
Norma interna da tropa de choque prevê a filmagem de suas operações. O uso de placas "frias" também é comum em serviços reservados da Polícia Militar.
O coronel Tomáz Alves Cangerana, comandante do policiamento de choque e um dos que chefiavam a operação em Osasco, confirmou que havia policiais à paisana e disse que os três poderiam ser do serviço reservado, mas alegou que não poderia fazer o reconhecimento por não tê-los visto.

"Não deu para verificar"
A reportagem da Folha apontou um deles ao major Moreno, que disse não reconhecê-lo. "Não é meu policial militar, do 14º batalhão. Vou checar." Por volta das 14h30, quando a operação de desocupação já estava cancelada, Moreno disse não ter novidades. "Não deu para eu verificar."
Posteriormente, a Folha voltou a procurar Cangerana três vezes. Em duas, sua secretária informou que ele estava "em reunião". Na última, cerca das 18h, a assistente disse que ele encontrava-se na rua e não poderia ser localizado.
A reportagem foi então atendida pelo coronel Cruz. Segundo ele, o reconhecimento das fotos dos falsos jornalistas só poderia ser feita por meio de um pedido formal da Folha.
Apesar de o procedimento ser "simples", afirmou o oficial, não havia chance de a identificação ser realizada ontem. "Nosso horário já está encerrando", disse.
Em seguida, Cruz reforçou a importância da queixa formal, "arrolando testemunhas, citando testemunhas, com um pouco de embasamento. Havia várias pessoas lá, repórteres, TVs, curiosos, pessoas filmando por conta, fotografando por conta, não são nem free-lancers, havia pessoas da prefeitura. Tinha uma variedade muito grande de pessoas, não era só policial e invasor".
A Folha registrou boletim de ocorrência no 77º Distrito Policial (Santa Cecília, região central).



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