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São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2003

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TRANSPORTE

Barreiras foram montadas em protesto contra aumento de tarifa de ônibus

Alunos param trânsito em Salvador

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Uma manifestação organizada principalmente por estudantes secundaristas contra o reajuste da tarifa básica do transporte coletivo de Salvador parou a capital baiana, a terceira maior cidade do país, durante todo o dia de ontem.
O protesto começou às 9h, quando cerca de 15 mil estudantes, segundo a PM, promoveram um "arrastão" simultâneo em vários pontos da cidade, interditando as principais ruas e avenidas.
Sem um "plano de ação" definido, os jovens alternavam longas e lentas caminhadas nas avenidas de maior fluxo e tentavam impedir a passagem dos veículos -colocavam pedras nas ruas e ficavam sentados ou deitados na pista, sob um calor de 31C.
Bairros localizados na periferia, onde está a maior parte das 22 empresas que operam o sistema de transporte coletivo da capital baiana, também foram "ocupados". Temendo o aumento da confusão, muitos comerciantes mantiveram os seus estabelecimentos fechados ontem.
"Demorei cinco horas para chegar ao trabalho", disse a empregada doméstica Maria da Conceição Silva, 39. Normalmente, o percurso é feito em 40 minutos.
"Como as ações acontecem ao mesmo tempo em vários pontos movimentados, não temos como controlar a situação", admitiu o secretário municipal dos Transportes Urbanos, Ivan Barbosa.
Apesar de ter divulgado uma nota em que informava não aceitar que o protesto impedisse o direito de ir e vir dos cidadãos, a PM só acompanhou a manifestação.
Os primeiros atos de insatisfação contra o reajuste da tarifa básica -de R$ 1,30 para R$ 1,50- começaram anteontem, um dia depois de o aumento entrar em vigor. No entanto, nas últimas 48 horas, o movimento ganhou força, com a adesão de alunos de escolas particulares e universitários.
Sem alternativa, motoristas e passageiros abandonaram carros e ônibus e ficaram sentados em jardins, praças e meio-fio. "Os estudantes têm razão, mas acho que estão passando dos limites", disse Maria do Carmo Santana, 32.
Com medo de perder um dia de trabalho, muitos deixaram os ônibus e optaram pelas caminhadas ou caronas com carros que puderam ultrapassar as barreiras.
No final da tarde, o Sindicato dos Transportes Coletivos de Salvador informou que 17 ônibus que tentaram ultrapassar os bloqueios tiveram os vidros quebrados. Em toda a cidade, foram montadas 20 barreiras pelos estudantes -nos congestionamentos mais intensos, cada ônibus demorava 30 minutos para ser liberado.
"A população que quer trabalhar deve sair cedo de casa. Vamos continuar parando a cidade até que o preço da tarifa seja reduzido", afirmou o estudante César Antunes da Costa Filho, 16.
Além da redução da tarifa, os estudantes reivindicam pagamento de 50% do valor da passagem aos sábados, domingos e feriados.
Para obter apoio popular, os alunos deram "trânsito livre" às pessoas que aparentassem mais de 60 anos. Com rostos pintados e fitas na cabeça, eles retiravam dos ônibus os idosos e os conduziam a outro veículo, com "permissão" para furar o bloqueio.
Ao contrário das últimas manifestações, o protesto não contou com uma liderança expressiva. "Não queremos políticos tirando proveito do nosso protesto", disse Regina Sales de Brito, 16.


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