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CIDADANIA
Lei incluiu deficientes visuais no sistema público de ensino em São Paulo; primeira aluna criou fundação de apoio
Criação de classes em braille faz 50 anos
DA REPORTAGEM LOCAL
Dos 8 aos 14 anos, Elisângelo
Souza dos Santos manteve-se
afastado da escola. Com notas
baixas e pouca capacidade de
concentração, ele era considerado
um aluno problema, até médicos
descobrirem a causa de seu comportamento: retinose pigmentar
-uma doença congênita, degenerativa, que destrói a visão.
Hoje, aos 20 anos, cego, Santos é
considerado um aluno exemplar
da escola estadual Caetano de
Campos, onde cursa o 1º ano do
colegial. Estuda com equipamentos especiais e quer prestar vestibular para publicidade.
"As informações em braille nas
embalagens ainda são muito
ruins. Só conhecendo as dificuldades que a gente passa é que dá
para pensar em soluções", diz.
Histórias como a de Santos
eram quase impossíveis há algumas décadas no país -os deficientes visuais estavam excluídos
do sistema público de ensino e do
mercado de trabalho. A primeira
iniciativa para mudar esse cenário
-a lei estadual 2.287, que instituiu as classes em braille na rede
pública- completa hoje 50 anos.
A data é motivo de comemoração para Dorina Nowill, 84, que
foi a primeira aluna cega a entrar
em um colégio público no Brasil.
Ela perdeu a visão aos 17 anos e,
para não suspender os estudos,
começou a assistir aulas no colégio Caetano de Campos -o mesmo onde Santos estuda, hoje.
Na época, porém, sua presença
só pôde ser regularizada por meio
de um decreto estadual. Ao concluir o magistério, Nowill montou
uma fundação, que leva seu nome, e mobilizou políticos e educadores para ampliar o decreto,
dando a todos os deficientes visuais o direito à educação.
Atualmente, cerca de 900 alunos
com deficiência visual estudam
na rede estadual de ensino e outros 900 frequentam a rede municipal de São Paulo. Parte do material utilizado por esses alunos provém da fundação Dorina Nowill,
por meio de parceiras. No ano
passado, a fundação realizou 18
mil atendimentos e produziu cerca de 9 milhões de páginas em
braille e 5.600 exemplares de livro
e revista falada, atendendo a cerca
de 600 organizações.
Guia visual
O hospital Albert Einstein lança
hoje o Guia Einstein para Portadores de Deficiência Visual, com
informações de saúde escritas em
braille ou com letras ampliadas. A
cada mês (até janeiro) será lançado um folheto voltado para temas
como vacinação, primeiros socorros e prevenção do câncer de
mama. Ao todo, serão 90 mil
exemplares, distribuídos pela
fundação Dorina Nowill, que é
parceira do hospital no projeto.
Fundação Dorina Nowill:
www.fundacaodorina.org.br; tel.:
0800-7701047
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