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São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2003

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CIDADANIA

Lei incluiu deficientes visuais no sistema público de ensino em São Paulo; primeira aluna criou fundação de apoio

Criação de classes em braille faz 50 anos

DA REPORTAGEM LOCAL

Dos 8 aos 14 anos, Elisângelo Souza dos Santos manteve-se afastado da escola. Com notas baixas e pouca capacidade de concentração, ele era considerado um aluno problema, até médicos descobrirem a causa de seu comportamento: retinose pigmentar -uma doença congênita, degenerativa, que destrói a visão.
Hoje, aos 20 anos, cego, Santos é considerado um aluno exemplar da escola estadual Caetano de Campos, onde cursa o 1º ano do colegial. Estuda com equipamentos especiais e quer prestar vestibular para publicidade.
"As informações em braille nas embalagens ainda são muito ruins. Só conhecendo as dificuldades que a gente passa é que dá para pensar em soluções", diz.
Histórias como a de Santos eram quase impossíveis há algumas décadas no país -os deficientes visuais estavam excluídos do sistema público de ensino e do mercado de trabalho. A primeira iniciativa para mudar esse cenário -a lei estadual 2.287, que instituiu as classes em braille na rede pública- completa hoje 50 anos.
A data é motivo de comemoração para Dorina Nowill, 84, que foi a primeira aluna cega a entrar em um colégio público no Brasil.
Ela perdeu a visão aos 17 anos e, para não suspender os estudos, começou a assistir aulas no colégio Caetano de Campos -o mesmo onde Santos estuda, hoje.
Na época, porém, sua presença só pôde ser regularizada por meio de um decreto estadual. Ao concluir o magistério, Nowill montou uma fundação, que leva seu nome, e mobilizou políticos e educadores para ampliar o decreto, dando a todos os deficientes visuais o direito à educação.
Atualmente, cerca de 900 alunos com deficiência visual estudam na rede estadual de ensino e outros 900 frequentam a rede municipal de São Paulo. Parte do material utilizado por esses alunos provém da fundação Dorina Nowill, por meio de parceiras. No ano passado, a fundação realizou 18 mil atendimentos e produziu cerca de 9 milhões de páginas em braille e 5.600 exemplares de livro e revista falada, atendendo a cerca de 600 organizações.

Guia visual
O hospital Albert Einstein lança hoje o Guia Einstein para Portadores de Deficiência Visual, com informações de saúde escritas em braille ou com letras ampliadas. A cada mês (até janeiro) será lançado um folheto voltado para temas como vacinação, primeiros socorros e prevenção do câncer de mama. Ao todo, serão 90 mil exemplares, distribuídos pela fundação Dorina Nowill, que é parceira do hospital no projeto.


Fundação Dorina Nowill: www.fundacaodorina.org.br; tel.: 0800-7701047


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