São Paulo, terça-feira, 03 de outubro de 2006

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Pilotos dizem ter perdido contato por rádio

Tripulação do jatinho afirmou à polícia de MT que não tinha contato com controle em Brasília quando houve choque

Justiça autorizou que os passaportes deles sejam retidos para que fiquem no país até que as informações prestadas sejam verificadas

LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A CUIABÁ

O jato executivo Legacy 600 estava sem contato com o centro de controle aéreo de Brasília quando se chocou com o avião da Gol, segundo depoimento prestado pelo piloto e o co-piloto da aeronave, Joseph Lepour e Jan Paladino, à Polícia Civil de Mato Grosso, na madrugada de sábado.
Apesar de terem dito que houve apenas um leve impacto com a outra aeronave, os dois tripulantes do Legacy, adquirido pela empresa de táxi aéreo americana ExcelAire, descreveram o barulho provocado pela colisão como semelhante a "uma batida de carro".
A polícia desconfia do depoimento dos tripulantes. A pedido do Ministério Público de Mato Grosso, a Justiça autorizou ontem que a Polícia Federal retenha os passaportes do piloto e do co-piloto do Legacy, para que "eles fiquem no país até que sejam verificadas as informações prestadas".
De acordo com o co-piloto, dez minutos após a decolagem (14h17, horário de Brasília), em São José dos Campos (SP), eles acionaram o piloto automático. Para alcançar a altitude de cruzeiro estabelecida no plano de vôo (37 mil pés), levaram cerca de 45 minutos.
Minutos antes do choque, após aproximadamente uma hora e meia de vôo, o piloto havia ido ao banheiro. No momento em que Lepour estava fora da cabine, a aeronave perdeu contato com o centro de controle de tráfego aéreo de Brasília. Paladino tentava retomá-lo, tendo testado "todas as freqüências constantes na carta de navegação".
O co-piloto disse que chegou a conseguir contato a partir da freqüência 135,9 MHz, mas que perdeu o sinal logo em seguida. Quando tentava novamente, Lepour voltou do banheiro. Mal o piloto retomou seu lugar, Paladino disse que sentiu uma "onda de choque na cabine". Achou "que a porta tivesse saído", segundo a transcrição de seu testemunho consultada pela reportagem.
O impacto desarmou o piloto automático e fez com que o avião pendesse para o lado esquerdo, obrigando Lepour a assumir o controle manual da aeronave. Assim que Lepour a estabilizou, pediu ao co-piloto que assumisse o comando, por ele ter mais experiência e mais horas de vôo naquele tipo de avião.
Ainda sem contato com Brasília, Paladino e Lepour tentaram avisar as autoridades sobre o ocorrido pela freqüência de emergência (121,5 MHz). Mais uma vez, sem sucesso. Conseguiram então se comunicar com um avião cargueiro da Polar Air Cargo, que os passou a freqüência da base aérea da serra do Cachimbo.
O gerente de Certificação de Aeronaves da Anac, Cláudio Passos, disse que os tripulantes do Legacy prestaram novo depoimento ontem, no Rio de Janeiro, à comissão que investiga o acidente.
O jatinho transportava também cinco passageiros: os sócios da Excel Ralph Michielli e David Jeffrey Rimmer, os funcionários da Embraer Henry Arthur Yendle e Daniel Bachmann e o jornalista do "The New York Times" Joe Sharkey.
Segundo o piloto e o co-piloto, ao ouvir o barulho, Michielli, um mecânico licenciado pela Agência Federal de Aviação Civil Norte-Americana, viu por uma das escotilhas que a extremidade da asa esquerda e a parte superior da cauda haviam sido avariadas. Orientou, então, os dois tripulantes a procurarem um aeroporto para pousar.


Colaborou a Sucursal de Brasília

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