São Paulo, segunda-feira, 03 de outubro de 2011

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OPINIÃO TRÂNSITO EM SÃO PAULO

Número de veículos na cidade é superestimado

Propagação de mitos e de dados errados torna difícil definir soluções adequadas para os problemas de transporte

PARECE HAVER UM SENTIMENTO DE "ORGULHO" QUE RELACIONA UMA GRANDE FROTA A IDEIAS DE DESENVOLVIMENTO E DE RIQUEZA

EDUARDO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A informação de que a capital paulista tem uma frota de 7 milhões de veículos se espalhou rapidamente e são hoje incontáveis as menções a essa cifra gigantesca.
É materialmente impossível, no entanto, haver essa quantidade de veículos em circulação, hoje e no futuro.
Nesse ritmo, a cidade teria 10 milhões de veículos no ano da Copa, 2014, número muito maior do que os verificados em grandes cidades do mundo, inclusive Los Angeles.
Dois estudos importantes revelam o absurdo desses valores. A pesquisa origem-destino realizada pelo Metrô nos domicílios em 2007 registrou a existência de cerca de 3,6 milhões de autos na região metropolitana de São Paulo.
A Secretaria Estadual do Meio Ambiente, na sua estimativa anual de emissão de poluentes, usou a metodologia internacional que analisa a idade dos veículos vendidos e a sua probabilidade de uso no tempo e chegou a um valor de 4,7 milhões de automóveis para 2010 na região metropolitana, que é compatível com o valor de 3,6 milhões a que se chegou em 2007.
Descontando-se as frotas dos demais 38 municípios da região metropolitana, é fácil concluir que a capital tem cerca de 3 milhões de carros, valor que, acrescido de motos, ônibus e caminhões, pode chegar, no máximo, a 4 milhões de veículos em uso.
Mas por que então esses números errados se mantêm?
A primeira razão é que os órgãos de trânsito nunca excluíram os veículos muito velhos, que não circulam mais há tempos, mantendo seus bancos de dados inflados.
O segundo motivo é mais ideológico: parece haver um sentimento de "orgulho" que relaciona uma grande frota a ideias de desenvolvimento e de riqueza. O tema do congestionamento entrou definitivamente na cultura paulistana e dominou a mídia, que reflete tudo o que diz respeito ao tema, mesmo com dados duvidosos como os dessa suposta frota gigantesca.
A terceira razão é que a crença nesses números nos leva a supor que não é possível resolver o problema do trânsito, o que pode ser conveniente para alguns.
A consequência principal é que a propagação de mitos e de dados errados torna difícil definir soluções adequadas para os problemas.
Ela esconde, por exemplo, o fato de que o congestionamento não é "democrático" , muito menos justo: o congestionamento causado pelos automóveis é responsável por um quarto do valor da tarifa dos ônibus, com custo extra de R$ 1,5 bilhão por ano para os usuários.

EDUARDO VASCONCELLOS é engenheiro, sociólogo, diretor do Instituto Movimento de SP e assessor da ANTP


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