São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2000

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FEBEM
Municípios considerados de risco, entre eles a capital, terão prioridade no projeto, que envolverá governo e comunidade
Ação integrada quer conter rotatividade

DA REPORTAGEM LOCAL

A Febem recebeu, nos últimos 12 meses, cerca de 8.000 garotos em todo o Estado que nunca haviam passado por unidades de internação. Se fossem adultos, seriam chamados de ""primários".
Esses adolescentes vivem em situação de risco, espalhados pelas diversas ""fábricas" de delinquentes, já identificadas em pesquisa.
Trinta municípios, incluindo a capital, entre 645 cidades, são responsáveis por cerca de 80% dos meninos que cumprem medida de internação em São Paulo. Há cerca de 300 cidades que não têm um único garoto na Febem.
É nos municípios mais problemáticos que a Secretaria da Assistência e Desenvolvimento Social pretende começar a estruturar a ""Rede de Ação à Prevenção da Violência", segundo o secretário da pasta, Edsom Ortega.
""Há uma rotatividade muito grande. Daqui a 12 meses, 98% dos menores da Febem estarão soltos, e a população das unidades será de novos garotos", afirma.
Dos 4.200 jovens internados na Febem hoje, só 83 estão nas unidades há mais de um ano. No mesmo intervalo de tempo, 8.800 garotos passaram pela fundação, dos quais 9,8% reincidiram.
Há outro contingente de jovens que voltaram a se envolver em crimes durante o período de liberdade assistida e morreram, geralmente praticando delitos. Entre maio de 99 e abril deste ano, foram em média 15 homicídios por mês. Isso representou um aumento de 114% em relação ao período de maio de 96 a abril de 97.
A rede idealizada pelo governo vai envolver diversas secretarias e entidades das comunidades.
Na capital, o projeto prevê a reprodução da experiência que há dois anos existe no Jardim Ângela -o quarto bairro mais populoso da cidade e onde mais morrem pessoas vítimas de homicídios. Nesse bairro, várias secretarias atuam, sobretudo em parcerias, para tentar conter a violência.
Os pólos de infratores da capital e os 29 municípios considerados de risco no Estado terão prioridade na implantação de programas sociais, como o de complementação de renda e o que prevê a construção de centros de juventude e oficinas culturais.
""Vamos chamar os prefeitos eleitos das cidades para expor esses problemas e conversar com eles sobre possíveis soluções", diz o secretário Ortega.
Ribeirão Preto (a 319 km de São Paulo) é o segundo município com maior número de internos na Febem, atrás apenas da capital, e à frente de Campinas e São José dos Campos, apesar de ter menor população em relação a eles.

Projeto
Uma das ações que já começaram, segundo Ortega, é a contratação de 7.000 jovens nos bolsões vulneráveis no município de São Paulo. ""Eles serão treinados e irão receber uma bolsa para atuar com agentes comunitários em diversas áreas, como saúde e meio ambiente", afirma o secretário.
Outros projetos estão em andamento e serão ampliados. É o caso do acompanhamento dos filhos de presos, que é feito pela Secretaria da Administração Penitenciária para evitar que os menores venham a se envolver com crimes.
A rede de prevenção não terá orçamento fixo, mas fatias das verbas de que as secretarias dispõem para ações sociais. É como um plano de metas a ser cumprido pelos secretários. (ALESSANDRO SILVA e GABRIELA ATHIAS)



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