São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2004

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ESCUTA ILEGAL

Objetivo é apurar se houve envolvimento em esquema de falsificação de ofícios para autorizar grampos

Polícia irá investigar funcionários das empresas telefônicas

ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Civil vai investigar se funcionários das operadoras de telefonia celular estão envolvidos em esquema no qual ofícios judiciais foram falsificados para obtenção de grampos telefônicos. Os criminosos imitavam assinaturas de juízes ou inventavam magistrados fantasmas para conseguir as escutas com as operadoras.
O delegado Godofredo Bittencourt, diretor do Deic (Departamento de Investigação Sobre o Crime Organizado), confirmou ontem que funcionários serão investigados. "Temos que investigar tudo, inclusive funcionários. Não estou afirmando que eles são suspeitos." Ele voltou a negar a participação de policiais na fraude, embora o Ministério Público, que também participa do caso, tenha uma linha de apuração que não descarta essa hipótese.
Ontem, a Folha informou que ao menos sete grampos telefônicos feitos pela operadora Vivo foram solicitados por meio de falsos ofícios judiciais. Em alguns casos, magistrados e delegados fantasmas solicitavam o grampo. Em outros, assinaturas de juízes foram falsificadas. Num oitavo caso, a operadora Claro desconfiou porque o ofício chegou só com a assinatura de um delegado fantasma. O grampo não foi feito.
A principal suspeita das investigações é que policiais civis, incluindo delegados de alta patente, donos de empresas de segurança e vigilância, tenham participação nesse esquema. O objetivo dos grampos seria espionagem comercial. As vítimas são empresários e gerentes de hipermercados da Grande São Paulo.
O secretário estadual da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, confirmou ontem que a principal suspeita é de que se trate de espionagem. "Como os telefones grampeados eram de homens de empresas que estavam participando de uma briga comercial, imagina-se que seja muito mais uma competição dessa área, ilegal é claro, mas uma investigação de concorrência empresarial."

Ministério Público
O caso também está sendo investigado pelos promotores Márcio Christino, Fábio Bueno e Rodrigo Frank, do Gecep (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial). O grupo só investiga crimes nos quais há suspeita de participação de policiais civis ou militares.
A Folha apurou que estão sendo considerados os seguintes fatos: policiais conhecem os trâmites para conseguir uma escuta telefônica; os envolvidos sabem como não deixar pistas; os ofícios de delegados fantasmas chegam às operadoras com papel timbrado da Polícia Civil. Os ofícios judiciais vão em papel comum.
Uma operadora de telefonia celular só faz um grampo com os ofícios do juiz e do delegado responsáveis por uma investigação. No documento, é pedido que as ligações sejam redirecionadas para outro celular, que fica em posse de um investigador, ou para o Dipol (Departamento de Inteligência da Polícia Civil), que grava as conversa em um CD. No caso dos ofícios falsos, os telefonemas eram retransmitidos para celulares clonados ou roubados.
As operadoras não comentaram as declarações de Bittencourt. A Vivo disse que não se pronunciará para não comprometer as investigações. A Claro afirmou que irregularidades em solicitações judiciais são encaminhadas às autoridades.


Colaborou FERNANDA FERNANDES, da Reportagem Local


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