|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCUTA ILEGAL
Objetivo é apurar se houve envolvimento em esquema de falsificação de ofícios para autorizar grampos
Polícia irá investigar funcionários das empresas telefônicas
ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Civil vai investigar se
funcionários das operadoras de
telefonia celular estão envolvidos
em esquema no qual ofícios judiciais foram falsificados para obtenção de grampos telefônicos. Os
criminosos imitavam assinaturas
de juízes ou inventavam magistrados fantasmas para conseguir
as escutas com as operadoras.
O delegado Godofredo Bittencourt, diretor do Deic (Departamento de Investigação Sobre o
Crime Organizado), confirmou
ontem que funcionários serão investigados. "Temos que investigar tudo, inclusive funcionários.
Não estou afirmando que eles são
suspeitos." Ele voltou a negar a
participação de policiais na fraude, embora o Ministério Público,
que também participa do caso, tenha uma linha de apuração que
não descarta essa hipótese.
Ontem, a Folha informou que
ao menos sete grampos telefônicos feitos pela operadora Vivo foram solicitados por meio de falsos
ofícios judiciais. Em alguns casos,
magistrados e delegados fantasmas solicitavam o grampo. Em
outros, assinaturas de juízes foram falsificadas. Num oitavo caso, a operadora Claro desconfiou
porque o ofício chegou só com a
assinatura de um delegado fantasma. O grampo não foi feito.
A principal suspeita das investigações é que policiais civis, incluindo delegados de alta patente,
donos de empresas de segurança
e vigilância, tenham participação
nesse esquema. O objetivo dos
grampos seria espionagem comercial. As vítimas são empresários e gerentes de hipermercados
da Grande São Paulo.
O secretário estadual da Segurança Pública, Saulo de Castro
Abreu Filho, confirmou ontem
que a principal suspeita é de que
se trate de espionagem. "Como os
telefones grampeados eram de
homens de empresas que estavam
participando de uma briga comercial, imagina-se que seja muito mais uma competição dessa
área, ilegal é claro, mas uma investigação de concorrência empresarial."
Ministério Público
O caso também está sendo investigado pelos promotores Márcio Christino, Fábio Bueno e Rodrigo Frank, do Gecep (Grupo de
Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial). O
grupo só investiga crimes nos
quais há suspeita de participação
de policiais civis ou militares.
A Folha apurou que estão sendo
considerados os seguintes fatos:
policiais conhecem os trâmites
para conseguir uma escuta telefônica; os envolvidos sabem como
não deixar pistas; os ofícios de delegados fantasmas chegam às
operadoras com papel timbrado
da Polícia Civil. Os ofícios judiciais vão em papel comum.
Uma operadora de telefonia celular só faz um grampo com os
ofícios do juiz e do delegado responsáveis por uma investigação.
No documento, é pedido que as ligações sejam redirecionadas para
outro celular, que fica em posse de
um investigador, ou para o Dipol
(Departamento de Inteligência da
Polícia Civil), que grava as conversa em um CD. No caso dos ofícios falsos, os telefonemas eram
retransmitidos para celulares clonados ou roubados.
As operadoras não comentaram as declarações de Bittencourt. A Vivo disse que não se
pronunciará para não comprometer as investigações. A Claro
afirmou que irregularidades em
solicitações judiciais são encaminhadas às autoridades.
Colaborou FERNANDA FERNANDES, da
Reportagem Local
Texto Anterior: Memória: Morrem dois secretários, do Rio e do Ceará Próximo Texto: Secretário diz ser fácil achar falsários Índice
|