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VIOLÊNCIA OCULTA
Zona norte, que concentra maioria de instituições da PM, teve menos crimes do que a média da cidade
Região de policiais é a mais segura de SP
MARIO CESAR CARVALHO
da Reportagem Local
A região mais
segura de São
Paulo não é onde moram os
mais ricos, o
Morumbi, nem
o bairro com
melhor qualidade de vida, Moema. É um pedaço
da zona norte que, coincidência
ou não, concentra a maioria das
instituições da Polícia Militar.
É a norte 2, como a chamam os
demógrafos. Engloba os bairros de
Santana, Tucuruvi, Tremembé,
Mandaqui, Jaçanã, Vila Guilherme, Vila Maria e Vila Medeiros.
Ficam nessa região a Academia
Militar do Barro Branco, que forma os oficiais da PM, o COE (Comando de Operações Especiais),
uma espécie de força de elite da
polícia, o canil, o hospital e o presídio da PM. A elite da PM mora
por ali. A começar pelo atual comandante-geral da PM, coronel
Carlos Alberto de Camargo. Seu
antecessor, coronel Claudionor
Lisboa, também é do pedaço.
A Folha chegou à conclusão de
que essa área mais segura da cidade cruzando dados de duas pesquisas: as de vítimas da violência,
de um levantamento feito pelo Datafolha, e de vítimas de homicídio,
do serviço funerário. Ambos os
dados são do ano passado.
Na região mais segura, 29% dos
moradores com 16 anos ou mais
foram vítimas de pelo menos 1 dos
11 crimes pesquisados, como roubo, furto ou arrombamento. O índice é inferior à média da cidade
(35%). Na norte 2, ocorreram no
ano passado 28 homicídios por 100
mil habitantes, também abaixo da
média (43 por 100 mil habitantes).
No extremo oposto, a região leste 1 aparece como a mais violenta
da cidade. Distritos como São Miguel e Itaim Paulista, na leste 1,
reúnem o pior dos mundos: assassinatos, arrombamentos e assaltos. Ali não vale a regra da polícia
segundo a qual o centro é palco de
crimes contra o patrimônio e a periferia, de crimes contra a vida.
O tenente Celso Luís Rodrigues,
que trabalha na zona norte, diz
que a segurança da região decorre
da alta concentração de militares.
"99,9% do alto comando mora na
área. É um motivo a mais para a
gente se preocupar no momento
do policiamento", afirma.
O comandante-geral da PM, coronel Camargo, diz que a região
não usufrui de benefícios por causa da concentração de oficiais. "A
polícia não privilegia essa região. É
mais fácil você encontrar policiais
na periferia do que na zona norte."
Segundo ele, a moda de oficiais
morarem na zona norte já passou e
tinha uma razão -a proximidade
com o curso de formação. "As gerações mais novas estão espalhados pela cidade."
Não é essa a impressão dos moradores da zona norte, vizinhos
das instituições militares. "Num
raio de cinco quadras, tem uns dez
coronéis e tenentes", diz o funcionário público aposentado João do
Couto, desde 45 no Jardim Barro
Branco. "Isso afasta bandido".
A pesquisa do Datafolha entrevistou 2.469 paulistanos com 16 anos ou mais entre 26 de outubro e 26 de novembro. A metodologia de abordagem e aplicação segue os padrões do Unicri
(United Nations Crime and Justice Research Institute). As equipes de campo eram formadas por
casais. Cada pesquisador aplicou o questionário
em pessoas do mesmo sexo que o seu. A coordenação esteve a cargo de Mauro Paulino Francisco e Alexandre Janoni Hernandes.
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