São Paulo, domingo, 4 de janeiro de 1998.



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VIOLÊNCIA OCULTA
Zona norte, que concentra maioria de instituições da PM, teve menos crimes do que a média da cidade
Região de policiais é a mais segura de SP

MARIO CESAR CARVALHO
da Reportagem Local


A região mais segura de São Paulo não é onde moram os mais ricos, o Morumbi, nem o bairro com melhor qualidade de vida, Moema. É um pedaço da zona norte que, coincidência ou não, concentra a maioria das instituições da Polícia Militar.
É a norte 2, como a chamam os demógrafos. Engloba os bairros de Santana, Tucuruvi, Tremembé, Mandaqui, Jaçanã, Vila Guilherme, Vila Maria e Vila Medeiros.
Ficam nessa região a Academia Militar do Barro Branco, que forma os oficiais da PM, o COE (Comando de Operações Especiais), uma espécie de força de elite da polícia, o canil, o hospital e o presídio da PM. A elite da PM mora por ali. A começar pelo atual comandante-geral da PM, coronel Carlos Alberto de Camargo. Seu antecessor, coronel Claudionor Lisboa, também é do pedaço.
A Folha chegou à conclusão de que essa área mais segura da cidade cruzando dados de duas pesquisas: as de vítimas da violência, de um levantamento feito pelo Datafolha, e de vítimas de homicídio, do serviço funerário. Ambos os dados são do ano passado.
Na região mais segura, 29% dos moradores com 16 anos ou mais foram vítimas de pelo menos 1 dos 11 crimes pesquisados, como roubo, furto ou arrombamento. O índice é inferior à média da cidade (35%). Na norte 2, ocorreram no ano passado 28 homicídios por 100 mil habitantes, também abaixo da média (43 por 100 mil habitantes).
No extremo oposto, a região leste 1 aparece como a mais violenta da cidade. Distritos como São Miguel e Itaim Paulista, na leste 1, reúnem o pior dos mundos: assassinatos, arrombamentos e assaltos. Ali não vale a regra da polícia segundo a qual o centro é palco de crimes contra o patrimônio e a periferia, de crimes contra a vida.
O tenente Celso Luís Rodrigues, que trabalha na zona norte, diz que a segurança da região decorre da alta concentração de militares. "99,9% do alto comando mora na área. É um motivo a mais para a gente se preocupar no momento do policiamento", afirma.
O comandante-geral da PM, coronel Camargo, diz que a região não usufrui de benefícios por causa da concentração de oficiais. "A polícia não privilegia essa região. É mais fácil você encontrar policiais na periferia do que na zona norte."
Segundo ele, a moda de oficiais morarem na zona norte já passou e tinha uma razão -a proximidade com o curso de formação. "As gerações mais novas estão espalhados pela cidade."
Não é essa a impressão dos moradores da zona norte, vizinhos das instituições militares. "Num raio de cinco quadras, tem uns dez coronéis e tenentes", diz o funcionário público aposentado João do Couto, desde 45 no Jardim Barro Branco. "Isso afasta bandido".


A pesquisa do Datafolha entrevistou 2.469 paulistanos com 16 anos ou mais entre 26 de outubro e 26 de novembro. A metodologia de abordagem e aplicação segue os padrões do Unicri (United Nations Crime and Justice Research Institute). As equipes de campo eram formadas por casais. Cada pesquisador aplicou o questionário em pessoas do mesmo sexo que o seu. A coordenação esteve a cargo de Mauro Paulino Francisco e Alexandre Janoni Hernandes.




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