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LETRAS JURÍDICAS
2003: o discurso presidencial e uma revisão
WALTER CENEVIVA
COLUNISTA DA FOLHA
No seu discurso de posse, o
presidente Lula da Silva
priorizou seus objetivos econômicos e sociais. O presidente do Senado, Ramez Tebet, lembrou que
a filtragem dos projetos de lei cabe ao Legislativo, com o qual o
Executivo deve encontrar caminho comum. O presidente do STF
(Supremo Tribunal Federal), ministro Marco Aurélio Mello,
acompanhando o discurso, há de
ter meditado sobre os problemas
(não referidos por Lula) do Judiciário, que seu ministro de Justiça, Márcio Thomaz Bastos, quer
enfrentar logo.
Pensando na fala do novo presidente da República e no que ele
não mencionou, me veio a idéia
de lembrar algumas das preocupações do cidadão brasileiro em
2003 no campo do direito público
e do direito privado.
O ano me oferece, enquanto
operário do direito, como primeira preocupação, a entrada em vigor do Código Civil, na próxima
semana. As novidades, especialmente no referente a empresas,
empresários e ao direito de família e sucessões, poderão causar
muitas surpresas. Assinalo a mudança substancial na estrutura
de sociedade limitada, ampliando a vida de milhões de empresas
(geralmente pequenas), organizadas sob essa forma.
No direito penal e processual
penal as discussões se estendem a
vários campos. Aponto dois que
parecem providos de maior importância social. A diminuição da
idade de responsabilidade penal,
com começo tradicional aos 18
anos, parece tendente a ser reduzida para 16, sob o argumento de
que, na órbita criminal, a diferença de compreensão da ilicitude de
certas condutas não é diferente
entre os 16 e os 18 anos.
Além dessa preocupação há
questões sociais mais sérias, como
tirar os jovens das ruas, propiciar-lhes atividade sadia e evitar que,
seduzidos pela perspectiva do dinheiro fácil, ingressem no caminho da criminalidade.
Fixando-nos no Poder Judiciário, o futuro mais assustador está
no número de processos parados,
à espera de pauta de julgamento.
As sugestões de aprimoramento
não parecem aptas a resolver o
problema, até porque as maiores
fontes do congestionamento estão
em setores do Executivo e no calote sistemático aplicado a seus credores. O chefe do Executivo federal vai ter de enfrentar queixas e
decisões da magistratura.
O direito do trabalho, superado
o escândalo provocado pela construção do prédio do TRT em São
Paulo, retoma a avaliação das
providências cabíveis para dar-lhe eficiência. O presidente Lula
referiu a previdência social, no
entanto, na Justiça do Trabalho,
tanto na magistratura, quanto no
Ministério Público, a demanda
por decisões rápidas é maior do
que a produção delas. A demora é
insuportável.
O direito internacional público,
no começo do ano, preocupa com
as consequências de guerra estimulada pelo interesse em controlar os poços de petróleo do Iraque.
As posições referidas por Lula são
claras e deverão ser acompanhadas pelas medidas correspondentes. As ações de guerra, defendidas por George W. Bush, poderão
estimular o terrorismo, em vez de
o reduzir ou impedir. Sabe-se como essas coisas começam, mas
não como acabam.
Cabe perguntar: o que se pode
esperar de 2003 é bom ou não? O
otimismo confessado pelo novo
presidente contagia, mas o imponderável da história tem tantas
variáveis que é melhor aguardar
uns tempos.
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