DA REPORTAGEM LOCAL

As estatísticas brasileiras sobre alcoolismo parecem uma dança de números. Não se sabe exatamente em que patamar o país está. Em parte, isso acontece por causa do preconceito, que acaba levando os médicos a uma "subnotificação" dos casos.
Nos prontos-socorros, os registros não apontam o álcool como causa de internação. "O indivíduo é internado porque foi atropelado, porque bateu o carro e teve traumatismo craniano. Mas nunca porque estava alcoolizado", afirma o médico Emanuel Vespucci.
Na certidão de óbito, a causa da morte também é disfarçada. Morre-se por cirrose, traumatismo craniano ou infarto. Não pelo excesso de álcool. Por tudo isso, é difícil provar que o alcoolismo é a terceira causa de morte no Brasil, como a Organização Mundial da Saúde aponta.
Segundo o Ministério da Saúde, em 1999, o Sistema Único de Saúde (SUS) gastou R$ 57 milhões com 85.584 internações por transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de álcool (o valor equivale a 12% do total gasto com doenças mentais).
No mesmo ano, o consumo de álcool foi o segundo maior responsável por internações em hospitais psiquiátricos. Outras complicações da bebida, como doenças do fígado, foram responsáveis por mais de 9.000 internações (7.344 delas por cirrose) entre janeiro e agosto daquele ano.
Sob os efeitos do álcool, também aumenta a incidência de acidentes de carro e de relações sexuais desprotegidas. Pesquisa financiada pela Unaids, em 1999, e intitulada "Comportamento Sexual da População Brasileira e Percepções sobre HIV e Aids", revelou que 13,8% dos indivíduos sexualmente ativos nem sempre usam preservativo quando estão alcoolizados ou drogados.
O álcool é ainda a primeira causa de acidente no trânsito. "A segunda é a sonolência", diz Fábio Racy, presidente da Associação Brasileira de Acidentes e Medicina de Tráfego.
No período de janeiro a setembro de 2000, a bebida provocou 199.739 acidentes com vítimas no país (91.697 só nas estradas do Estado de São Paulo).


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