São Paulo, quarta-feira, 04 de fevereiro de 2004

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VIOLÊNCIA

Os policiais, que estão presos, estariam trabalhando como seguranças para uma casa de eventos em Campinas

2 PMs são acusados de agredir e matar jovem

MAURÍCIO SIMIONATO
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS

Dois policiais militares foram presos ontem pelo Comando da Polícia Militar de Campinas (95 km a noroeste de SP) acusados de participar da morte por espancamento do adolescente Ivo Mucillo Júnior, 17, no último domingo, em frente a uma das maiores casas de shows e eventos do interior, a Usina Royal, no bairro Taquaral, em Campinas.
Segundo a Polícia Civil, que instaurou inquérito para apurar o caso, os policiais, que não tiveram o nome divulgado, faziam bico como seguranças naquela noite. Mucillo Júnior foi morto, conforme a polícia, quando tentou defender um amigo, também adolescente e que tentou pular o muro da boate, dos seguranças.
Os dois policiais foram reconhecidos ontem à noite por testemunhas na Polícia Civil e foram indiciados por homicídio. O delegado responsável pelo caso, Cláudio Alvarenga, pediu a prisão temporária deles à Justiça.
A polícia afirma que um dos policiais acusados era lutador de jiu-jítsu. Um terceiro policial que teria participado do crime foi citado no depoimento por testemunhas, segundo a polícia, mas não havia sido identificado até ontem.
Além de Mucillo Júnior, outro adolescente, L.,16, foi agredido com um soco no rosto e desmaiou. Ele passa bem. Os dois eram amigos. Mucillo Júnior foi enterrado em Capivari (SP).

Reconhecimento
De acordo com o comandante do CPI-2 (Comando do Policiamento do Interior) da PM, coronel Reynaldo Pinheiro da Silva, os dois policiais militares foram identificados por meio de fotos por testemunhas.
"Eles [PMs] tiveram prisão administrativa e serão encaminhados para a Corregedoria, onde prestarão depoimento e ficarão detidos até a conclusão da investigação", disse o coronel.
Segundo o coronel da PM de Campinas, os dois policias presos estavam de folga no dia do crime. Pinheiro não confirmou se eles faziam bico naquela noite.
Os dois policiais permanecerão em prisão administrativa por pelo menos cinco dias no presídio Romão Gomes, em São Paulo, segundo o coronel da PM. Eles responderão a uma sindicância e podem ser expulsos.
O advogado dos dois policiais presos, Pedro Gustavo Pinheiro Machado, não quis se manifestar sobre o caso ontem à tarde.
O diretor-geral da Usina Royal, Fábio Rodrigues Marques, afirmou que a casa não "tem nenhuma relação com o ocorrido". "A segurança da casa é terceirizada pela empresa Mega Segurança, que, por nossa exigência, possui funcionários devidamente uniformizados e identificados."
A direção da Mega negou à Polícia Civil que contrate PMs como seguranças em eventos.
A domingueira na casa havia sido promovida pelo empresário Alexandre Vasconcelos Pinheiro, que também negou ter contratado policiais.
De acordo com a testemunha M.T.S., 18, um dos três policiais estava armado e dois deles estavam cada um em uma moto. Ele afirmou que os três [PMs] não o deixaram socorrer o amigo, que, mesmo caído e inconsciente, continuava apanhando.
A família de Mucillo Júnior pretende entrar na Justiça contra o Estado e a Usina Royal. "Exijo Justiça e que todos os responsáveis sejam condenados", disse. Ela disse que seu filho havia concluído o ensino fundamental e pretendia ingressar no Exército.


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