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COMENTÁRIO
A origem
do trote
HÉLIO SCHWARTSMAN
da equipe de articulistas
Embora inaceitáveis num
país que se pretenda civilizado,
os trotes violentos têm origem
tão antiga quanto os próprios
homens. Entram na categoria
do que os antropólogos chamam de ritos de passagem.
Embora assumindo as mais diversas formas, essas cerimônias são praticamente universais nas sociedades humanas.
Ocorrem, em geral, na passagem da vida infantil para a
adulta (puberdade). Assim, os
homens judeus realizam o seu
bar-mitzvá aos 13, e os muçulmanos costumam aplicar a circuncisão aos 11.
Há rituais mais estranhos aos
olhos ocidentais. Entre os bemba na África, por exemplo, as
meninas, quando da primeira
menstruação, têm de caçar insetos aquáticos com a boca e
matar uma galinha sentando-se sobre sua cabeça. Há casos supostamente mais chocantes, envolvendo relações
homossexuais obrigatórias entre os garotos mais velhos e
aqueles que chegam à maturidade.
A existência de alguma forma
de dor é bastante usual: remoção total ou parcial do clitóris,
perfurações e tatuagens por cicatrizes são, por exemplo, relativamente frequentes.
Nas sociedades industrializadas modernas, contudo, os ritos de passagem foram substituindo seu caráter religioso pelo civil. É assim que os jovens
comemoram com ardor a obtenção da licença de motorista
e também a própria entrada na
universidade. É justamente esse caráter civil que se almeja alcançar. O trote (talvez fosse
melhor rebatizar de ``rito de
passagem'' mesmo) é característica profundamente humana e tem alto valor de integração social. Já a tortura é, não só
absolutamente dispensável em
termos estruturais, como também criminosa.
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