São Paulo, sábado, 04 de março de 2000


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CAÇA AO PROFANO
TPF e arquidiocese paulistana conseguem censurar Águia de Ouro
Justiça impede uso de imagem sacra em desfile de São Paulo

SORAYA AGÉGE
da Reportagem Local

A Justiça proibiu ontem a escola de samba Águia de Ouro, de São Paulo, de apresentar ao público a escultura da Virgem Maria, baseada na "Pietá" de Michelangelo. A escola seria a quarta a se apresentar, na madrugada de hoje.
Em caráter liminar, foram atendidos os pedidos de censura feitos pela TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade) e pela Arquidiocese de São Paulo.
A alegoria da Águia de Ouro mostra Maria segurando no colo um indígena, com sinais de crucificação, no lugar de Jesus.
A escola informou, no início da noite de ontem, que se não fosse notificada oficialmente até as 2h de hoje, exibiria a imagem.
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, no entanto, previa que a notificação deveria ser feita antes desse horário, já que ela havia sido expedida às 19h.
No despacho sobre o pedido da arquidiocese, o desembargador José Luiz Fonseca Tavares cita o artigo 208 do Código Penal para justificar sua decisão: "Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso".
Até as 18h de ontem, a escola de samba Unidos da Tijuca, do Grupo Especial do Rio de Janeiro, não havia conseguido liminar da Justiça para recuperar a imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança e uma cruz, apreendidas no barracão da escola, quarta-feira.
A ausência da liminar impede a escola de recuperar os objetos, que estão numa delegacia de polícia, para mostrá-los em seu desfile, segunda-feira. "Posso carnavalizar essa história toda", disse o carnavalesco Chico Spinoza. Ele promete uma surpresa na avenida para compensar a perda.
A imagem e a cruz foram apreendidas por ordem da Secretaria de Segurança Pública do Estado, por solicitação da Arquidiocese do Rio, que acusou a Unidos da Tijuca de vilipêndio (desprezo público por objeto religioso).
O advogado da Arquidiocese, Antônio Passos, promete que qualquer "deboche" contra a igreja, na avenida, será respondido com processo. Ele confirmou que cinco advogados estarão de plantão, para emergências.
Carnavalescos de outras escolas que vão fazer referência à religião católica - Grande Rio, Beija Flor, Viradouro e Caprichosos de Pilares - disseram ontem que não temem a ação da polícia para repreender seus desfiles.


Colaborou a Sucursal do Rio

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