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VIOLÊNCIA
Maioria dos roubos e furtos da capital paulista é cometida por jovens brancos, segundo estudo com 2.901 processos
Pesquisa revela perfil do ladrão em SP
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O assaltante típico que atemoriza São Paulo não é negro nem
nordestino, como fazem supor
dois preconceitos bem arraigados
na sociedade.
Uma pesquisa inédita feita no
Judiciário, obtida com exclusividade pela Folha, revela que 57%
dos crimes de roubo e furto são
cometidos por brancos (os negros
respondem por apenas 12%).
Desses delitos, 62% são praticados por paulistas, percentual que
sobe para 71% se forem somados
os crimes realizados no município de São Paulo por mineiros
(5%) e paranaenses (4%). A Bahia
responde por 8% dos envolvidos,
e Pernambuco, por 6%.
"O Perfil do Réu nos Delitos
contra o Patrimônio" é o primeiro
levantamento do gênero, feito a
partir de consulta direta de processos no Tribunal de Alçada Criminal (TACrim).
O retrato obtido pela pesquisa
-realizada pelo Cebepej (Centro
Brasileiro de Estudos e Pesquisas
Judiciais)- ajuda a entender o
caldeirão em que se transformou
o sistema penitenciário paulista.
Quase a metade dos delitos contra o patrimônio são cometidos
por jovens, na faixa de 18 a 21
anos. Apenas 25% dos acusados
por furto, e 15% por roubo, têm
mais de 30 anos. Pouco mais da
metade dos acusados declararam-se reincidentes.
"É comum encontrar jovens de
20 anos acumulando penas em
torno de 40 anos", diz o juiz Caetano Lagrasta Neto, do TACrim, e
secretário-executivo do Cebepej.
Uma vez encarcerado, por um
primeiro delito, dificilmente o jovem voltará a uma vida normal,
diz o magistrado.
"A pesquisa mostra aos juízes
que é desnecessário, de certa forma, encarcerar imediatamente o
ladrãozinho que roubou um relógio, colocando-o em regime fechado", diz Lagrasta Neto.
"Isso nos levou ao PCC (Primeiro Comando da Capital, organização de presos que domina os presídios paulistas)", diz o juiz.
Abertura do Judiciário
Durante seis meses, 22 alunos
da Faculdade de Direito da USP
(Universidade de São Paulo) consultaram 2.901 processos que deram entrada, entre 1991 e 1999, em
29 varas criminais do foro central
da capital.
A amostra é estatisticamente representativa, pois alcança 5% dos
57.997 processos do período:
17.220 por furto e 40.777 por roubo (ao contrário do furto, o roubo
é a apropriação feita com ameaça
grave ou com o uso de violência).
A abertura dos arquivos da Justiça se deve à iniciativa do Cebepej, entidade que reúne juízes e
estudiosos sobre o Judiciário, presidida pelo desembargador aposentado Kazuo Watanabe.
A pesquisa teve o apoio do
Idesp (Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de
São Paulo), do TACrim e da Corregedoria Geral de Justiça do Estado de São Paulo.
"Há cinco anos, não haveria
condições para um trabalho científico aproximando a academia e
o Judiciário", diz Maria Tereza Sadek, professora de ciência política
na USP e pesquisadora do Idesp.
Das 30 varas criminais da capital paulista, apenas o juiz titular
da 4ª Vara recusou-se a colaborar,
proibindo o ingresso dos pesquisadores no cartório.
Os resultados da pesquisa serão
apresentados nesta terça-feira, às
17h, no Plenário do Tribunal de
Alçada Criminal. Para debater o
tema, foram convidados, entre
outros, juristas, secretários e ex-titulares das pastas de Justiça e Segurança Pública.
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