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"O negócio aqui vem em mãos"
DA REPORTAGEM LOCAL
A Folha entrevistou por telefone dois presos da Penitenciária do
Estado para saber como funciona
o esquema de corrupção envolvendo funcionários. Os detentos,
que dizem não ser ligados ao PCC,
confirmaram a participação de
agentes penitenciários na entrega
de armas, drogas e celulares.
Eles negaram que advogados e
familiares façam parte do esquema de entregas, dizendo que tudo
é levado pelos funcionários.
Há uma pessoa certa na cadeia
para pedir celulares, segundo os
presos. "Alguém de fora deposita
dinheiro na conta dele ou de um
laranja. Depois ele traz o celular, a
bateria e os carregadores", diz F.
A maior preocupação dos presos é a demora nos processos de
quem cumpriu pena, pediu liberdade condicional ou mudança de
regime. "Isso aqui é um depósito
de gente. É o que complica tudo
pois as pessoas ficam com raiva",
diz J. Leia a entrevista com ele.
Folha - Quem leva a droga aí?
J - Sobre isso a gente tem medo
de falar. Isso aí é uma bomba.
Folha - É o tráfico que movimenta
as coisas aí dentro?
J - Você já sabe tudo.
Folha - Como é mais fácil: colocar
o dinheiro na conta do agente ou as
pessoas jogarem pelo lado de fora?
J - O negócio aqui vem em mãos.
Folha - Põe dinheiro na conta e o
agente leva?
J - Tá vendo como você sabe?
Folha - Qual droga entra mais?
J - O que tem mais é maconha.
Quem recebe a encomenda não
vende para os outros?
J - É. Tá vendo como você sabe?
Folha - Vocês pagam quanto?
J - Aí é a "bala" de que eles falam.
Folha - E quanto custa a "bala"?
J - É (sic) uns dez maços, varia.
Folha - Vocês pagam por maços
de cigarro? É mais ou menos R$ 10?
J - É isso. Mas tem outro jeito
também. Se a pessoa encomenda
300 gramas, recebe 200 e o restante fica para quem entregou.
Folha - Como está a situação aí?
J - Está tudo normalizado, mas
tem uma coisa que deve acontecer
dentro de uns 30 dias.
Folha - O que é? Outra rebelião?
J - Se o negócio da papelada não
andar, isso aqui vai explodir tudo.
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