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São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2003

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NARCOTRÁFICO

Aumento do consumo aumenta o poder dos criminosos, segundo a avaliação do Departamento de Estado

Para EUA, mercado da droga cresce no Brasil

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Os Estados Unidos avaliam que as violentas ações e o domínio exercido por traficantes no Brasil são o resultado da formação, dentro do país, de um mercado consumidor crescente que não é efetivamente combatido pelas autoridades brasileiras.
Afirmam também que o país vem se transformando em base para laboratórios de processamento de cocaína devido à facilidade com que traficantes obtêm material químico para o refino da droga no Brasil.
"Originalmente, o Brasil era um país de trânsito para a droga. Ao longo dos anos, os traficantes desenvolveram um grande mercado consumidor. Isso deveria preocupar as autoridades locais", disse ontem à Folha Paul Simons, secretário-assistente de Estado norte-americano. "É uma situação parecida com o que aconteceu com a Tailândia em relação à heroína", afirmou Simons.
A divisão internacional de combate ao narcotráfico do Departamento de Estado apresentou ontem em Washington seu relatório relativo a 2002. É o documento mais completo produzido pelos EUA sobre o assunto e orienta toda a política do país no combate às drogas e à lavagem de dinheiro no mundo.
Embora o relatório tenha um tom favorável ao Brasil, o país aparece nas três principais "listas negras" do departamento: canal de trânsito de drogas para os EUA, fornecedor de agentes químicos para produção de drogas e ponto de lavagem de dinheiro de operações ilícitas.
Simons fez questão de frisar que a lavagem de dinheiro continua sendo "um dos principais mecanismos de financiamento de atividades terroristas".
"Os traficantes no Brasil tornaram-se um problema extremamente sério", disse Simons ao ser indagado sobre como avaliava a atual situação no Rio, onde o Exército foi chamado para fazer a segurança no Carnaval após os atentados patrocinados supostamente pelo narcotráfico na última semana. "Em nossos contatos com as autoridades brasileiras, alertamos que o consumo, de cocaína principalmente, vem crescendo muito no Brasil. E isso não ocorre em muitos outros países."
Simons respondeu com um seco "no coments" (sem comentários) ao fato de o principal traficante do país, Fernandinho Beira-Mar, continuar comandando as ações de seu grupo criminosos de dentro de prisões de "segurança máxima" no Rio.
De um modo geral, o relatório norte-americano revela aspectos positivos da política governamental de combate ao narcotráfico. Aponta o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), apreensões de drogas e o treinamento de policiais brasileiros nos EUA como louváveis. Chega também a elogiar a "consciência contra as drogas" despertada pela novela "O Clone" -na qual dois personagens eram dependentes de entorpecentes em busca de tratamento.
O departamento diz que, com exceção do cultivo de maconha para consumo interno no Nordeste, não há plantações significativas de drogas ilícitas em solo brasileiro. "Os narcotraficantes estão investindo em laboratórios de refino", afirma o relatório.
Segundo as informações do Departamento de Estado dos EUA, embora de "um a dois grandes carregamentos mensais" de cocaína colombiana entrem regularmente no Rio e em São Paulo,a maior parte da droga consumida ou exportada pelo Brasil ainda é oriunda da Bolívia.



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