|
Próximo Texto | Índice
NARCOTRÁFICO
Aumento do consumo aumenta o poder dos criminosos, segundo a avaliação do Departamento de Estado
Para EUA, mercado da droga cresce no Brasil
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Os Estados Unidos avaliam que
as violentas ações e o domínio
exercido por traficantes no Brasil
são o resultado da formação, dentro do país, de um mercado consumidor crescente que não é efetivamente combatido pelas autoridades brasileiras.
Afirmam também que o país
vem se transformando em base
para laboratórios de processamento de cocaína devido à facilidade com que traficantes obtêm
material químico para o refino da
droga no Brasil.
"Originalmente, o Brasil era um
país de trânsito para a droga. Ao
longo dos anos, os traficantes desenvolveram um grande mercado
consumidor. Isso deveria preocupar as autoridades locais", disse
ontem à Folha Paul Simons, secretário-assistente de Estado norte-americano. "É uma situação
parecida com o que aconteceu
com a Tailândia em relação à heroína", afirmou Simons.
A divisão internacional de combate ao narcotráfico do Departamento de Estado apresentou ontem em Washington seu relatório
relativo a 2002. É o documento
mais completo produzido pelos
EUA sobre o assunto e orienta toda a política do país no combate
às drogas e à lavagem de dinheiro
no mundo.
Embora o relatório tenha um
tom favorável ao Brasil, o país
aparece nas três principais "listas
negras" do departamento: canal
de trânsito de drogas para os
EUA, fornecedor de agentes químicos para produção de drogas e
ponto de lavagem de dinheiro de
operações ilícitas.
Simons fez questão de frisar que
a lavagem de dinheiro continua
sendo "um dos principais mecanismos de financiamento de atividades terroristas".
"Os traficantes no Brasil tornaram-se um problema extremamente sério", disse Simons ao ser
indagado sobre como avaliava a
atual situação no Rio, onde o
Exército foi chamado para fazer a
segurança no Carnaval após os
atentados patrocinados supostamente pelo narcotráfico na última
semana. "Em nossos contatos
com as autoridades brasileiras,
alertamos que o consumo, de cocaína principalmente, vem crescendo muito no Brasil. E isso não
ocorre em muitos outros países."
Simons respondeu com um seco "no coments" (sem comentários) ao fato de o principal traficante do país, Fernandinho Beira-Mar, continuar comandando as
ações de seu grupo criminosos de
dentro de prisões de "segurança
máxima" no Rio.
De um modo geral, o relatório
norte-americano revela aspectos
positivos da política governamental de combate ao narcotráfico.
Aponta o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), apreensões
de drogas e o treinamento de policiais brasileiros nos EUA como
louváveis. Chega também a elogiar a "consciência contra as drogas" despertada pela novela "O
Clone" -na qual dois personagens eram dependentes de entorpecentes em busca de tratamento.
O departamento diz que, com
exceção do cultivo de maconha
para consumo interno no Nordeste, não há plantações significativas de drogas ilícitas em solo
brasileiro. "Os narcotraficantes
estão investindo em laboratórios
de refino", afirma o relatório.
Segundo as informações do Departamento de Estado dos EUA,
embora de "um a dois grandes
carregamentos mensais" de cocaína colombiana entrem regularmente no Rio e em São Paulo,a
maior parte da droga consumida
ou exportada pelo Brasil ainda é
oriunda da Bolívia.
Próximo Texto: Violência: Com tropas do Exército nas ruas, 8 são mortos no Rio Índice
|