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São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2003

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Nenhuma escola surgiu como favorita no 1º dia; sob forte esquema de segurança, houve manifestações pela paz

Temática social esconde partes íntimas

DA SUCURSAL DO RIO

E DO ENVIADO ESPECIAL

A primeira noite do desfile das escolas do Grupo Especial do Rio, no domingo, teve o predomínio de temáticas políticas e pouco nu. O social não combina com o carnal? Segundo carnavalescos e dirigentes de escolas de samba, a resposta parece ser sim.
O certo é que, em tempo de crise financeira e falta de patrocínio, os temas sociopolíticos se destacaram. Uma igualdade foi alcançada ao menos na avenida. No primeiro dia de desfile, nenhuma escola despontou como favorita.
A justificativa para a falta de apelo sexual, segundo carnavalescos e diretores de escolas de samba, estava nos temas dos enredos.
O Império Serrano tratou da temática da paz, a Caprichosos falou de liberdade, com Zumbi dos Palmares, e a Portela, ao contar a história da Cinelândia, lembrou as passeatas contra o regime militar e a tortura.
A Grande Rio, a única escola a conseguir patrocínio (R$ 2,5 milhões da Vale do Rio Doce para contar a história da mineração no país), acabou falando de fome.
A primeira escola a entrar na avenida, a Acadêmicos de Santa Cruz, contou a história do teatro e colocou os seus integrantes bem cobertos. A tentação foi a bailarina Patrícia Chelida, 26, destaque na boca de um dragão, em que representava "o fogo do inferno".
Paulo Rejane, diretor da escola, afirmou que a história do teatro contada pela Santa Cruz não incluía as trocas de roupa nos camarins e, por isso, não tinha por que exibir modelos despidas.
Os primeiros seios a entrarem livres na Marquês de Sapucaí surgiram na Grande Rio, terceira escola da noite. Vieram nos corpos de escravas, açoitadas pelo senhor branco, em uma ala que representava o trabalho escravo nas minas.
Na Império Serrano, as mulheres despidas imitavam os movimentos de macacos, em uma alusão às origens do homem. Nenhum integrante era modelo. "A ala falava da origem do homem. A gente não quis corpos perfeitos porque, naquela época, não havia corpos artificiais", afirmou Wagner Ramos, coreógrafo da ala.
Mesmo Eva, que veio ao mundo totalmente sem roupa, no desfile da Império Serrano tratou de cobrir os bicos dos seios e também a genitália. "Sempre procurei cobrir a escola", afirmou o carnavalesco Ernesto Nascimento. "Quando há mulheres mais expostas é porque o enredo pede."
A atriz Bibi Ferreira foi homenageada pela Viradouro. Os papéis que Bibi protagonizou, como o da cantora francesa Edith Piaf, foram representados na avenida por atrizes como Bete Coelho e Eliane Giardini. Também participaram do desfile os atores Paulo Goulart e Nicete Bruno.
No primeiro dia, nenhuma escola saiu consagrada como a favorita do público. Na homenagem a Bibi Ferreira, a Viradouro fez um desfile de fácil comunicação e levou para o sambódromo o samba mais bonito da noite, mas também não saiu como favorita.
A Portela encerrou o desfile já sob a luz do dia e conseguiu animar o público.

Segurança e paz
Nas arquibancadas, havia faixas com pedidos de paz. O Rio passou a semana anterior ao Carnaval em meio a ataques de traficantes. A Polícia Civil recebeu um informe de que os criminosos planejavam atacar a subestação da Light perto do sambódromo. O objetivo seria cortar a luz durante o desfile.
Na entrada do sambódromo, havia, pela primeira vez, detectores de metal. Câmeras foram instaladas. Um helicóptero, o Esquadrão Antibombas e 137 agentes à paisana, além de 25 homens da Coordenadoria de Recursos Especiais, foram mobilizados dentro do sambódromo. Fora, a segurança estava a cargo da PM.
No Carnaval com mais policiais da história da cidade, um grupo de policiais militares armados entrou na Passarela do Samba no final dos desfiles. (FERNANDA DA ESCÓSSIA, ANTÔNIO GOIS, TALITA FIGUEIREDO E CHICO DE GÓIS)


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