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Nenhuma escola surgiu como favorita no 1º dia; sob forte esquema de segurança, houve manifestações pela paz
Temática social esconde partes íntimas
DA SUCURSAL DO RIO
E DO ENVIADO ESPECIAL
A primeira noite do desfile das
escolas do Grupo Especial do Rio,
no domingo, teve o predomínio
de temáticas políticas e pouco nu.
O social não combina com o carnal? Segundo carnavalescos e dirigentes de escolas de samba, a resposta parece ser sim.
O certo é que, em tempo de crise
financeira e falta de patrocínio, os
temas sociopolíticos se destacaram. Uma igualdade foi alcançada
ao menos na avenida. No primeiro dia de desfile, nenhuma escola
despontou como favorita.
A justificativa para a falta de
apelo sexual, segundo carnavalescos e diretores de escolas de samba, estava nos temas dos enredos.
O Império Serrano tratou da temática da paz, a Caprichosos falou de liberdade, com Zumbi dos
Palmares, e a Portela, ao contar a
história da Cinelândia, lembrou
as passeatas contra o regime militar e a tortura.
A Grande Rio, a única escola a
conseguir patrocínio (R$ 2,5 milhões da Vale do Rio Doce para
contar a história da mineração no
país), acabou falando de fome.
A primeira escola a entrar na
avenida, a Acadêmicos de Santa
Cruz, contou a história do teatro e
colocou os seus integrantes bem
cobertos. A tentação foi a bailarina Patrícia Chelida, 26, destaque
na boca de um dragão, em que representava "o fogo do inferno".
Paulo Rejane, diretor da escola,
afirmou que a história do teatro
contada pela Santa Cruz não incluía as trocas de roupa nos camarins e, por isso, não tinha por que
exibir modelos despidas.
Os primeiros seios a entrarem
livres na Marquês de Sapucaí surgiram na Grande Rio, terceira escola da noite. Vieram nos corpos
de escravas, açoitadas pelo senhor
branco, em uma ala que representava o trabalho escravo nas minas.
Na Império Serrano, as mulheres despidas imitavam os movimentos de macacos, em uma alusão às origens do homem. Nenhum integrante era modelo. "A
ala falava da origem do homem. A
gente não quis corpos perfeitos
porque, naquela época, não havia
corpos artificiais", afirmou Wagner Ramos, coreógrafo da ala.
Mesmo Eva, que veio ao mundo
totalmente sem roupa, no desfile
da Império Serrano tratou de cobrir os bicos dos seios e também a
genitália. "Sempre procurei cobrir a escola", afirmou o carnavalesco Ernesto Nascimento.
"Quando há mulheres mais expostas é porque o enredo pede."
A atriz Bibi Ferreira foi homenageada pela Viradouro. Os papéis que Bibi protagonizou, como
o da cantora francesa Edith Piaf,
foram representados na avenida
por atrizes como Bete Coelho e
Eliane Giardini. Também participaram do desfile os atores Paulo
Goulart e Nicete Bruno.
No primeiro dia, nenhuma escola saiu consagrada como a favorita do público. Na homenagem a
Bibi Ferreira, a Viradouro fez um
desfile de fácil comunicação e levou para o sambódromo o samba
mais bonito da noite, mas também não saiu como favorita.
A Portela encerrou o desfile já
sob a luz do dia e conseguiu animar o público.
Segurança e paz
Nas arquibancadas, havia faixas
com pedidos de paz. O Rio passou
a semana anterior ao Carnaval em
meio a ataques de traficantes. A
Polícia Civil recebeu um informe
de que os criminosos planejavam
atacar a subestação da Light perto
do sambódromo. O objetivo seria
cortar a luz durante o desfile.
Na entrada do sambódromo,
havia, pela primeira vez, detectores de metal. Câmeras foram instaladas. Um helicóptero, o Esquadrão Antibombas e 137 agentes à
paisana, além de 25 homens da
Coordenadoria de Recursos Especiais, foram mobilizados dentro do sambódromo. Fora, a segurança estava a cargo da PM.
No Carnaval com mais policiais
da história da cidade, um grupo
de policiais militares armados entrou na Passarela do Samba no final dos desfiles.
(FERNANDA DA ESCÓSSIA, ANTÔNIO GOIS, TALITA FIGUEIREDO E CHICO DE GÓIS)
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