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EDUCAÇÃO
Ensino médio público pode ter "apagão" se não forem adotadas ações emergenciais para incentivar novos profissionais
Falta de professor pode afetar todo o país
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A falta de professores no ensino
médio público, hoje restrita a algumas regiões, como o Nordeste,
poderá se generalizar nos próximos anos em todo o país se não
forem adotadas ações emergenciais para incentivar a entrada de
novos profissionais no mercado
de trabalho, principalmente nas
áreas de ciências e exatas.
A avaliação é de gestores estaduais e ligados ao Ministério da
Educação, que preparam um plano emergencial para enfrentar as
carências de professores no ensino médio. Com base em várias
pesquisas realizadas desde 2003
por diferentes entidades, o grupo
detectou descompasso entre a saída de docentes da rede pública, o
baixo índice de jovens que entram
na carreira e o crescente número
de alunos no ensino médio.
Traduzindo em números, isso
representa um aumento de 61,4%
nas matrículas do ensino médio
nos últimos oito anos, segundo
dados do Censo Escolar. Um déficit de 235 mil professores no ensino médio e outros 476 mil de
quarta a oitava séries, de acordo
com levantamento do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), de 2003.
E 55% de docentes na faixa etária dos 40 aos 60 anos, mais próximos da aposentadoria, entre
4.656 profissionais pesquisados
em dez Estados pela CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação). Essa pesquisa aponta como causas para o baixo interesse na profissão salários
defasados na rede pública (média
de R$ 500 a R$ 700 por 20 horas
semanais), violência nas escolas e
superlotação das salas.
O reflexo já é sentido na ponta.
Disciplinas do ensino médio sendo ministradas por alunos dos últimos anos de graduação ou em
sistema de rodízio, jovens sem vagas em escolas próximas de casa e
até falta de aula por inexistência
de docentes. Governadores do
Nordeste vêm alertando desde
2004 para o que chamam de "apagão" do ensino médio.
Para reverter a situação, uma
das propostas em debate no Ministério da Educação é promover
uma "chamada nacional de professores". Consiste em convocar
profissionais para atuar em caráter excepcional e por tempo determinado como docentes das
áreas de matemática, física, química e biologia, as mais carentes.
Seria feita em parceria com universidades públicas e Estados.
Para a secretária da Educação
do Pará, Rosa Cunha, que também é vice-presidente do Consed
(Conselho Nacional de Secretários de Educação), esse tipo de
ação já é adotado por alguns Estados, mas não resolve o problema.
"Não adianta chamar o que não
existe. Precisamos é de mais recursos para investir no ensino
médio", diz Cunha.
A presidente da CNTE, Juçara
Dutra Vieira, sugere que o MEC
estipule metas para canalizar os
recursos a áreas mais necessitadas. "Não houve uma política nacional preocupada com o ensino
médio. Hoje, a escola pública não
sabe se forma o jovem para o mercado de trabalho ou para continuar os estudos no ensino superior", afirma Vieira.
Segundo Ronaldo Teixeira da
Silva, chefe-de-gabinete do ministro Tarso Genro, parte dos R$ 470
milhões anunciados pelo governo
federal para ajudar os Estados do
Nordeste e o Pará no ensino médio neste ano será usada na formação de professores. Em cerca
de 20 dias, o MEC deve apresentar
o Plano Nacional da Qualidade da
Educação Básica, que terá entre as
ações a serem adotadas algumas
para suprir a carência de professores.
(LUCIANA CONSTANTINO)
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