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DANUZA LEÃO
Procura-se aquela mulher
Mas pensar no que já foi
não leva a nada; existe o presente, que é hoje, e o futuro, que ninguém sabe
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APROVEITE ESTE novo começo
de ano, depois do Carnaval,
e dê uma olhada para trás, para lembrar dos homens que, em algum momento, foram -ou pareceram ser- muito importantes em
sua vida.
Você tinha tudo: era bonita, fazia
sucesso e arrasava quando entrava
numa festa. Só não tinha uma coisa:
juízo. Apaixonava-se com uma certa
freqüência, e nem sabia a razão de
cada uma dessas paixões; mas achava que isso era muito normal, e tudo
bem. Aliás, não achava nada, porque
não tinha tempo a perder com bobagens, tipo parar para pensar.
Havia um que acendia o cigarro e
entregava já aceso, e esta foi uma
paixão fulminante, daquelas boas de
lembrar.
Teve aquele outro que desaparecia, mas quando se encontravam
-por acaso- fazia as mais lindas declarações de amor. A vida com ele
era um eterno suspense, o que contribuía muito para a paixão aumentar. E, quando ele sumia de novo,
eram tempos de angústia, imaginando onde ele poderia estar para se
cruzarem de novo -sempre por acaso. Ah, como era bom.
E aqueles que nem quis saber?
Um porque era muito sério, outro
porque não se vestia de acordo com
os padrões da época -altamente
discutíveis, aliás-, outro porque
trabalhava muito e não podia ficar
jogando conversa fora até alta madrugada, como namorar um homem
assim?
O que diriam seus companheiros
de boemia, num tempo em que
quando se perguntava "que tal foi a
noite de ontem?" a resposta nunca
era "foi ótima" ou "foi péssima", e
sim "cheguei em casa com o dia claro" -sinônimo de que havia sido
maravilhosa. Ria-se muito, é verdade, mas quando pensa agora, quanta
bobagem, quanto tempo perdido
-para nada. Será que para nada
mesmo? É o que ela se pergunta.
Não faz parte de seus hábitos
olhar para o passado, nem é daquelas que dizem "não me arrependo de
nada do que fiz". Arrepende-se sim,
e de muita coisa. Se pudesse voltar
atrás no tempo, quanta bobagem
não teria deixado de fazer, quanta
coisa teria feito diferente. Mas pensar no que já foi não leva a nada; existe o presente, que é hoje, e o futuro, que ninguém sabe.
Se um daqueles homens em quem
não achava a menor graça aparecesse agora, o que faria? Daria pelo menos uma chance, ou continuaria à
procura daquela paixão fulminante
que reconhecia logo no primeiro
olhar? Claro que daria; afinal o tempo passou, ela amadureceu, criou
juízo -já não era sem tempo- e
agora sabe que existem outras maneiras de um homem e uma mulher
darem certo, que o amor pode vir
chegando aos poucos; aliás nem tem
mais idade para reviver aquelas loucuras que faziam parte do cotidiano.
E sabe mais: o quanto é importante o companheirismo, a cumplicidade, ter gostos em comum -muito
mais do que viver com o coração na
boca, sem poder pensar noutra coisa, sem conseguir dormir, a não ser
para estar com a cara maravilhosa
para sair com ele -se ele telefonasse, claro.
Ela criou juízo, sim; mudou e não
quer, nunca mais, viver daquele
jeito.
Mas pensando bem, que pena; que
pena, e que saudades; às vezes pensa
que daria qualquer coisa para voltar
no tempo. Mas onde está esse homem capaz de fazer ela voltar a perder a cabeça, largar tudo e pegar um
avião para ir atrás dele, louca, como
aconteceu tantas vezes? Onde está
esse homem?
Pensando melhor: onde está
aquela mulher? Onde?
danuza.leao@uol.com.br
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