São Paulo, domingo, 04 de março de 2007

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DANUZA LEÃO

Procura-se aquela mulher


Mas pensar no que já foi não leva a nada; existe o presente, que é hoje, e o futuro, que ninguém sabe

APROVEITE ESTE novo começo de ano, depois do Carnaval, e dê uma olhada para trás, para lembrar dos homens que, em algum momento, foram -ou pareceram ser- muito importantes em sua vida.
Você tinha tudo: era bonita, fazia sucesso e arrasava quando entrava numa festa. Só não tinha uma coisa: juízo. Apaixonava-se com uma certa freqüência, e nem sabia a razão de cada uma dessas paixões; mas achava que isso era muito normal, e tudo bem. Aliás, não achava nada, porque não tinha tempo a perder com bobagens, tipo parar para pensar.
Havia um que acendia o cigarro e entregava já aceso, e esta foi uma paixão fulminante, daquelas boas de lembrar.
Teve aquele outro que desaparecia, mas quando se encontravam -por acaso- fazia as mais lindas declarações de amor. A vida com ele era um eterno suspense, o que contribuía muito para a paixão aumentar. E, quando ele sumia de novo, eram tempos de angústia, imaginando onde ele poderia estar para se cruzarem de novo -sempre por acaso. Ah, como era bom.
E aqueles que nem quis saber?
Um porque era muito sério, outro porque não se vestia de acordo com os padrões da época -altamente discutíveis, aliás-, outro porque trabalhava muito e não podia ficar jogando conversa fora até alta madrugada, como namorar um homem assim?
O que diriam seus companheiros de boemia, num tempo em que quando se perguntava "que tal foi a noite de ontem?" a resposta nunca era "foi ótima" ou "foi péssima", e sim "cheguei em casa com o dia claro" -sinônimo de que havia sido maravilhosa. Ria-se muito, é verdade, mas quando pensa agora, quanta bobagem, quanto tempo perdido -para nada. Será que para nada mesmo? É o que ela se pergunta.
Não faz parte de seus hábitos olhar para o passado, nem é daquelas que dizem "não me arrependo de nada do que fiz". Arrepende-se sim, e de muita coisa. Se pudesse voltar atrás no tempo, quanta bobagem não teria deixado de fazer, quanta coisa teria feito diferente. Mas pensar no que já foi não leva a nada; existe o presente, que é hoje, e o futuro, que ninguém sabe.
Se um daqueles homens em quem não achava a menor graça aparecesse agora, o que faria? Daria pelo menos uma chance, ou continuaria à procura daquela paixão fulminante que reconhecia logo no primeiro olhar? Claro que daria; afinal o tempo passou, ela amadureceu, criou juízo -já não era sem tempo- e agora sabe que existem outras maneiras de um homem e uma mulher darem certo, que o amor pode vir chegando aos poucos; aliás nem tem mais idade para reviver aquelas loucuras que faziam parte do cotidiano.
E sabe mais: o quanto é importante o companheirismo, a cumplicidade, ter gostos em comum -muito mais do que viver com o coração na boca, sem poder pensar noutra coisa, sem conseguir dormir, a não ser para estar com a cara maravilhosa para sair com ele -se ele telefonasse, claro.
Ela criou juízo, sim; mudou e não quer, nunca mais, viver daquele jeito.
Mas pensando bem, que pena; que pena, e que saudades; às vezes pensa que daria qualquer coisa para voltar no tempo. Mas onde está esse homem capaz de fazer ela voltar a perder a cabeça, largar tudo e pegar um avião para ir atrás dele, louca, como aconteceu tantas vezes? Onde está esse homem?
Pensando melhor: onde está aquela mulher? Onde?

danuza.leao@uol.com.br


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