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Núcleo em São Carlos prioriza a tolerância
LUÍS FERNANDO MANZOLI
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
São Carlos, cidade de 220 mil
habitantes do interior paulista,
criou há seis anos um núcleo
com o objetivo de aplicar integralmente o ECA (Estatuto da
Criança e do Adolescente) no
atendimento ao jovem infrator.
Os resultados obtidos têm colocado a cidade como um exemplo no Estado.
Em 1998, três anos antes da
instalação do NAI, 15 adolescentes de São Carlos cometeram homicídios. Em 2005, o
número caiu para um e, em
2006, não houve nenhum caso.
Segundo o padre Agnaldo Lima, ex-coordenador do NAI e
atual presidente do Conselho
Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente, a
média de reincidência de jovens que cumprem medidas socioeducativas na cidade foi de
4% no ano passado - no Estado, 29% dos adolescentes atendidos no regime fechado e
aberto voltaram a cometer um
crime em 2006.
Em Americana, segunda cidade do Estado a inaugurar um
NAI, em abril de 2005, a reincidência em 2006 foi de 20%.
Uma das estratégias do núcleo é usar tolerância em relação ao adolescente que comete
um crime. Segundo o juiz da Infância e Juventude de São Carlos, João Galhardo, a cada semestre pelo menos 15 jovens
que cometeram crimes graves e
teriam de ser internados são
enviados para medidas mais leves, como a semiliberdade.
No ano passado, dos 850 jovens infratores atendidos pelo
núcleo, apenas nove (ou 1,05%)
receberam punição máxima da
Justiça prevista pelo ECA e foram enviados para unidades de
internação. Para comparar, em
Ribeirão Preto, que também
tem um NAI, dos 903 adolescentes que cometeram atos infracionais de janeiro de 2006
até este mês, 177 jovens (19,6%)
foram internados na Fundação
Casa, antiga Febem.
"O que fazemos é olhar para o
adolescente, e não para o ato
infracional. Em vez de investirmos em baldes para conter a
água, tentamos fechar a torneira", diz o padre Lima.
Enquanto espera a aplicação
da punição, o jovem em São
Carlos realiza atividades escolares, artísticas e esportivas, no
espaço do próprio NAI.
Internação
Das seis medidas socioeducativas previstas pelo ECA, São
Carlos só não tem a internação
-executada, quando necessário, por unidades da Fundação
Casa em Ribeirão, Araraquara
ou São Paulo.
Também não há celas no NAI
de São Carlos. O local reservado
para a internação provisória do
jovem que espera sentença judicial tem portas, e não grades
como em outras cidades.
Para o sociólogo canadense
Marc Le Blanc, referência no
estudo mundial da delinqüência juvenil que esteve em Ribeirão na quinta passada, quanto
menor a abordagem punitiva,
maior a taxa de sucesso e, com o
tempo, menor a delinqüência.
Umaia El Khatib, terapeuta
ocupacional e professora da
UFSCar (Universidade Federal
de São Carlos), afirma que o
modelo é um avanço em comparação com outros sistemas
de atendimento ao adolescente
infrator, mas ainda incorpora a
"visão errônea" de que o adolescente infrator tem de ser punido em vez de educado.
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