São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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Ambientalistas vêem flotação com reservas

DO COLUNISTA DA FOLHA

Movimentos sociais e organizações de defesa do ambiente sempre viram o projeto de flotação no rio Pinheiros com reservas. "Em vez de bombear água [da flotação] para o Tietê e ajudar a limpá-lo, [querem] jogar na Billings para produzir uma energia cara", critica Marussia Whately, do Instituto Socioambiental e da campanha De Olho nos Mananciais.
A controvérsia levou a um acordo entre a Promotoria e a Emae, em junho, segundo o qual a empresa pode testar a flotação de 6 a 12 meses, com vazão reduzida a um quinto do projeto. O experimento começou em setembro, nos 5 km do rio junto à Billings.
A finalidade do teste é produzir dados sobre a qualidade da água pós-flotação, para alimentar estudo e relatório de impacto ambiental (EIA-Rima). Só depois de aprovado o EIA-Rima seria possível operar o sistema completo.
O sistema enfrenta, porém, vários problemas. Quando há controle de cheias, precisa ser interrompido. Chuvas fortes também danificam equipamentos.
Pior efeito tem o lixo carreado por córregos. Três mil toneladas são retiradas por ano. De garrafas PET a itens de mobília, os dejetos se acumulam nos aparelhos da flotação. Com isso, o sistema raramente funciona mais que cinco dias seguidos.
O resultado é que, no seis meses de teste, não foram coletados dados suficientes para o EIA-Rima. "Os resultados até agora são inconclusivos", diz o promotor José Eduardo Lutti. "Não conseguimos ainda saber se a água será boa ou não." Mais seis meses, para completar um ciclo hidrológico (cheias e estiagem), serão necessários.
A boa notícia é que o quadro talvez não resulte tão poluído quanto se imaginava. Pedro Mancuso, especialistas em reuso de água da Faculdade de Saúde Pública da USP e coordenador dos assistentes técnicos da Promotoria para a flotação, vê itens animadores entre os mais de 200 parâmetros de qualidade de água analisados.
A turbidez cai drasticamente com a flotação, assim como os níveis de fosfato (que faz as algas proliferarem). "Será assim sempre? Não sei", ressalva Mancuso. Só a série completa de dados e o EIA-Rima poderão dizer.
"Só os sólidos serão removidos, parte dos fosfatos e outros nutrientes. Microorganismos como fungos, bactérias e protozoários, ou compostos solúveis, só serão removidos se forem coagulados ou floculados", diz Jorge Rubio, especialista em flotação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. "O esgoto tem de ser tratado antes de ser lançado nos rios."


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